São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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MARCELO BERABA

Onde está Tim Lopes?

RIO DE JANEIRO - Vivemos, infelizmente, num país miserável, em que o jornalismo ainda tem de se ocupar de mazelas como a pobreza, o trabalho escravo, a corrupção, o narcotráfico.
Bom seria se vivêssemos todos num pedaço deste planeta em que pudéssemos abrir os jornais ou ligar rádios e televisões e encontrar apenas boas notícias. Teríamos, então, jornalistas exclusivamente dedicados a assuntos nobres, como a prosperidade, a cultura, o lazer, a prestação de serviços.
Nossa realidade é outra e nossa miséria está exposta de tal forma que não só não temos como ignorá-la como somos obrigados a vivê-la independentemente de nossa formação, origem social ou renda.
Nossas favelas, no Rio e em São Paulo, estão literalmente dominadas pelo narcotráfico. Nelas, os moradores - pessoas trabalhadoras, jovens em idade escolar, idosos cansados- sobrevivem humilhados e subjugados. O narcotráfico, com seus comandos carniceiros incrustados nas comunidades mais pobres e desassistidas, está acabando com as nossas vidas e com a vida dessas cidades.
Essa situação não pode ser escondida, tem de ser mostrada diariamente. E é isso que a imprensa tem obrigação de fazer. Não cabe a ela consertar a sociedade, mas é de sua responsabilidade apontar as feridas. Caso contrário, estará traindo uma de suas funções e contribuindo para o conformismo e para o domínio do terror.
No Rio, os sucessivos governos não têm tido competência para garantir a segurança física de seus cidadãos. Agora, já não existe segurança para o exercício do jornalismo, o que significa, na prática, que a liberdade de expressão neste país está ameaçada e que o poder mudou de lado.
O repórter Tim Lopes está desaparecido desde domingo à noite, quando subiu a uma favela para fazer uma reportagem sobre bailes funk. Tim Lopes não é um repórter qualquer. Ele é o repórter que, ao longo dos últimos 30 anos, não nos permitiu esquecer que vivemos no Brasil, cercados de miséria, racismo e violência. Nós o queremos de volta, vivo.



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