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MARCELO BERABA
Onde está Tim Lopes?
RIO DE JANEIRO - Vivemos, infelizmente, num país miserável, em que o
jornalismo ainda tem de se ocupar de
mazelas como a pobreza, o trabalho
escravo, a corrupção, o narcotráfico.
Bom seria se vivêssemos todos num
pedaço deste planeta em que pudéssemos abrir os jornais ou ligar rádios
e televisões e encontrar apenas boas
notícias. Teríamos, então, jornalistas
exclusivamente dedicados a assuntos
nobres, como a prosperidade, a cultura, o lazer, a prestação de serviços.
Nossa realidade é outra e nossa miséria está exposta de tal forma que
não só não temos como ignorá-la como somos obrigados a vivê-la independentemente de nossa formação,
origem social ou renda.
Nossas favelas, no Rio e em São
Paulo, estão literalmente dominadas
pelo narcotráfico. Nelas, os moradores - pessoas trabalhadoras, jovens
em idade escolar, idosos cansados-
sobrevivem humilhados e subjugados. O narcotráfico, com seus comandos carniceiros incrustados nas comunidades mais pobres e desassistidas, está acabando com as nossas vidas e com a vida dessas cidades.
Essa situação não pode ser escondida, tem de ser mostrada diariamente.
E é isso que a imprensa tem obrigação de fazer. Não cabe a ela consertar
a sociedade, mas é de sua responsabilidade apontar as feridas. Caso contrário, estará traindo uma de suas
funções e contribuindo para o conformismo e para o domínio do terror.
No Rio, os sucessivos governos não
têm tido competência para garantir a
segurança física de seus cidadãos.
Agora, já não existe segurança para o
exercício do jornalismo, o que significa, na prática, que a liberdade de expressão neste país está ameaçada e
que o poder mudou de lado.
O repórter Tim Lopes está desaparecido desde domingo à noite, quando subiu a uma favela para fazer
uma reportagem sobre bailes funk.
Tim Lopes não é um repórter qualquer. Ele é o repórter que, ao longo
dos últimos 30 anos, não nos permitiu esquecer que vivemos no Brasil,
cercados de miséria, racismo e violência. Nós o queremos de volta, vivo.
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