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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Vale do Jequitinhonha

O empenho nacional para erradicar a miséria e a fome vai se fortalecendo graças às iniciativas do governo, à atuação das instituições religiosas e filantrópicas e à progressiva articulação da sociedade, conforme as orientações do Fome Zero, do Mutirão Nacional lançado pela CNBB e de outras beneméritas entidades. A prioridade do atual governo brasileiro tem atraído a atenção de outros países e inspirado medidas semelhantes.
Além das ações que procuram aliviar, sem delongas, a miséria e a fome, distribuindo cartões às famílias necessitadas, há uma grande criatividade em promover soluções que assegurem o trabalho e a capacidade de organização, evitando o assistencialismo e fomentando a auto-estima dos beneficiados..
No contexto dessas iniciativas, é preciso sublinhar a adesão do governo de Minas Gerais ao programa federal. Assim, em 5/6, foi assinado, no Palácio da Liberdade, pelo governador Aécio Neves, convênio de participação no Fome Zero, com a presença do ministro José Graziano e dos prefeitos dos 38 municípios escolhidos. É um primeiro passo que vai favorecer 180 mil famílias com R$ 50 mensais. Até o final de agosto, espera-se que estejam inscritos todos os municípios do semi-árido mineiro. Há, no entanto, outras realizações em marcha, a começar do Consea (Conselho de Segurança Alimentar), instalado oficialmente em Minas Gerais e que conta com membros atuantes sob a liderança de dom Mauro Morelli.
Merece especial destaque a criação da Secretaria Extraordinária para o Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha, do Mucuri e do Norte de Minas, que atua em colaboração com o Idene (Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais). A área corresponde a 37% do Estado e abrange 187 municípios. Está à frente da Secretaria Extraordinária a senhora Elbe Brandão Santiago. O programa procura respeitar as características locais e aproveitar as riquezas da região. A estratégia busca unir forças, congregar os agentes locais, aproveitar as redes existentes e possibilitar a participação direta das comunidades.
Os projetos em curso incluem a formação dos gestores municipais, a geração de trabalho e renda, o incentivo à agricultura familiar e a preservação das águas e procuram despertar o potencial humano do sertanejo para o modelo de gestão participativa de distribuição de responsabilidades. O método favorece a confiança na cooperação solidária para um desenvolvimento sustentável.
Recente reunião, em 4/6, em Belo Horizonte, contou com a presença de 14 bispos católicos interessados no programa. Entre os projetos, sobressai o esforço para enfrentar o analfabetismo. A situação é premente. A média do Estado mineiro (11,7%) é melhor do que a média nacional (12,1%). Mas, no Jequitinhonha e nas áreas vizinhas, a taxa sobe para 29%, e há municípios que chegam a ter 40% de pessoas de 15 anos ou mais que não sabem ler.
Para uma ação mais rápida em prol da alfabetização, o Movimento de Educação de Base, com mais de 40 anos de experiência, foi convidado a intensificar sua atuação na área.
Essas iniciativas promissoras em Minas e em outros Estados valorizam a fraternidade entre os filhos de Deus, colocam em evidência o critério evangélico da opção preferencial pelos mais necessitados e hão de ajudar a vencer não só a fome mas o egoísmo, que está na raiz das injustiças sociais.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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