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KENNETH MAXWELL
Victoria
e Camilla
O NOVO estádio de Wembley
recebeu Brasil e Inglaterra
para um amistoso, que terminou em empate, resultado até
razoável. E David Beckham reconquistou parte de seu prestígio junto à torcida britânica.
Mas os rumores que se ouviam
fora de campo envolviam menos o
jogo do que a possibilidade de que
Beckham viesse a ser sagrado cavaleiro na lista final de honrarias recomendadas pelo primeiro-ministro Tony Blair antes que ele deixe o
cargo. No caso de Beckham, ao que
parece, o problema é sua mulher,
Victoria. A questão proposta pelos
sábios da imprensa era a seguinte:
será que uma antiga Spice Girl pode se tornar uma lady? O outro drama da semana envolvia um especial de televisão chamado "Queen
Camilla". Trata-se de mais uma
tentativa dos amigos do príncipe
Charles de tornar a intragável senhora Camilla Bowles, agora duquesa da Cornualha, mais palatável
aos olhos de um público britânico
ainda saudoso da era de glamour
associada à princesa Diana.
O argumento era que o príncipe
Charles sempre foi um sujeito esquisito demais para ser rei, mas
agora que sua amante por muito
tempo e verdadeiro amor de sua vida, Camilla, está ao lado dele como
esposa, ela garantiria que o príncipe se mantenha na linha -comportando-se, na prática, como "sua
mãe", nas palavras do programa, de
modo que Charles, com a ajuda dela, poderia enfim encontrar sucesso como monarca.
Quando isso acontecer, argumentava o programa, o povo britânico viria a compreender que o sucesso dele se deve inteiramente ao
apoio da sofrida, silenciosa e nada
glamourosa Camilla, o que resultaria no surgimento de uma rainha
Camilla digna de amor. E Camilla,
dessa maneira, substituiria para
sempre, na mente do público, a
persistente memória da "princesa
do povo".
Trata-se, evidentemente, de
uma história de Cinderela em sentido inverso. Agora, é a irmã feia
que retorna triunfante para conquistar o príncipe encantado, na
verdade nem tão encantado assim.
Mas, no confuso mundo do moralismo público britânico, o que justifica, então, toda a boataria sobre a
aceitabilidade de Beckham como
detentor do título de cavaleiro, que
pode ou não ser conferido a ele como parte da última lista de
honrarias de Tony Blair? Já que o
adultério triunfou no topo, por assim dizer -esposa morta, amante
vitoriosa-, o que há de tão errado
quanto a um histórico como Spice
Girl? Se teremos uma rainha Camilla, por que não uma lady Victoria
Beckham?
As coisas com certeza eram muito mais simples na era do velho estádio de Wembley, quando o Brasil
enfrentava a Inglaterra. Então, todo mundo sabia que Pelé era o rei.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de Paulo Migliacci
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