São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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LUIZ FERNANDO VIANNA

Ministro do ataque

RIO DE JANEIRO - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, poderia ter consultado seu colega José Gomes Temporão antes de, ao comentar na última quarta-feira o destino dos passageiros do voo AF 447, tergiversar sobre abdomes rompidos e tubarões devorando corpos na costa de Pernambuco.
O Instituto Nacional do Câncer, vinculado ao Ministério da Saúde, iniciou no mês passado uma parceria com o Albert Einstein visando a preparar médicos do hospital paulista para darem más notícias. As palestras e atividades variadas -como simulações com atores- reúnem profissionais de diversas especialidades, pois todos podem ter que comunicar a alguém um diagnóstico de câncer.
Como diz um psiquiatra que está trabalhando no projeto, "verdades massacrantes e promessas vãs" devem ser evitadas quando se abordam fatos terríveis. No caso da tragédia do Airbus, não caberia à Aeronáutica ficar dizendo que a prioridade é encontrar sobreviventes, quando se sabe que as chances de isso acontecer são desprezíveis.
O que leva o ministro da Defesa, um dia após ter ido supostamente consolar as famílias das vítimas, a falar em tubarões e abdomes rompidos? A que serve essa informação? Todo o desempenho de Jobim nesta semana o credencia, se tanto, ao cargo de ministro do Ataque.
O advogado e sobretudo político não sabe, mas dar más notícias não é algo que deva ser feito de improviso. Existe toda uma literatura sobre o assunto, um protocolo internacional, técnicas que exigem estudo e constante atualização.
Os médicos e psicólogos da Air France certamente dominam essas informações, tanto que estão com os familiares num ambiente isolado (o salão de um hotel), algo recomendado nesses casos. A parolagem sanguinolenta de Jobim em nada ajudou o trabalho deles.


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