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CONFRONTO PERIGOSO
O episódio do ajuste das tarifas
de telefonia corre o risco de se
transformar num caso exemplar de
má política pública. Os problemas
começaram no próprio processo de
privatização, quando as garantias de
reajuste de tarifas foram oferecidas
às novas concessionárias. O direito
de corrigir os preços dos serviços
prestados pelo IGP-DI correspondia
à necessidade de oferecer ao investidor a segurança de que as receitas
acompanhariam mais de perto a cotação do dólar.
Com isso, o governo pretendia proteger o setor dos efeitos deletérios de
uma eventual desvalorização do real,
mantendo sua capacidade de investimento e expansão. A contrapartida
foi o estabelecimento de metas, também fixadas em contrato, que as novas operadoras precisariam cumprir.
Era previsível que, num quadro de
alta da inflação, causada por uma
forte desvalorização do real, o IGP-DI acabasse se descolando de outros
índices, como o IPCA -que acompanha a evolução dos preços ao consumidor. Com isso gerou-se a celeuma: a Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) deveria autorizar
aumento de tarifas tendo como base
um índice que se mostra claramente
acima da inflação ao consumidor?
Era natural que o governo procurasse negociar com as concessionárias um parcelamento do ajuste ou,
até mesmo, uma mudança, em comum acordo, de critério. Lamentavelmente, a negociação falhou. Deveriam as autoridades, então, olhar para a frente, procurar novos entendimentos, recolocar o caso em debate
em próximas revisões contratuais.
Não é o que está ocorrendo. O Ministério das Comunicações empenhou-se em mover uma campanha
pública para que os consumidores
contestem, na Justiça, o ajuste autorizado pela Anatel.
Obviamente, o consumidor tem o
direito de recorrer à Justiça, caso se
considere prejudicado. Diferente é o
governo, indiretamente, partir para o
confronto com as concessionárias,
ameaçando insuflar uma guerra de
liminares. Cria, com isso, um ambiente de conflito em torno de contratos, que só contribuirá para gerar
apreensões em novos investidores.
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