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São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2003

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

O castelo de Lula

SÃO PAULO - Há muito em comum entre o mundo encantado do Palácio da Alvorada e o castelo de "Caras". Sob Luiz Inácio Lula da Silva, a Presidência da República se converteu numa espécie de espetáculo -não o do crescimento, cancelado até segunda ordem por força dos fatos. O que o marketing oficial se esforçou desde o início para vender como ganho democrático -o estilo espontâneo, informal, "quente" e fisicamente próximo do povo- parece, antes, uma maneira muito pouco republicana de exercício do poder.
Em gestos e discursos, aos quais não faltam a tônica palanqueira e o acento infanto-sentimental, Lula parece vítima de seu próprio êxito. Aos poucos, vai se desacreditando entre gafes e bravatas ao mesmo tempo em que aprofunda a confusão entre o público e o privado. Em seu show, joga no lixo, junto com a pompa, a liturgia mínima exigida pelo cargo.
Nisso o acompanha, literalmente como sombra, a primeira-dama, Marisa Letícia, de quem se pode dizer que é praticamente muda, mas não discreta. A única entrevista que concedeu até agora, para uma revista feminina convencional, escolhida a dedo, é uma coleção de platitudes domésticas. Sua economia verbal contrasta com a pouca cerimônia que dedicou ao recebimento de favores e pequenos cuidados cosméticos.
O casal Cardoso teria muito a ensinar, neste capítulo, aos atuais inquilinos do Alvorada. Sua conduta foi exemplar num governo de resto marcado por intelectuais-banqueiros que transitaram com desenvoltura ímpar entre o público e o privado.
Descontadas as diferenças, que existem, o estilo Lula-Marisa está mais próximo de Collor-Rosane do que pode parecer. Basta comparar, como exemplo, os termos usados por ambos para exaltar a própria masculinidade e o papel que cada uma das primeiras-damas reservou a si.
É até uma ironia que, depois de sucumbir ao programa histórico do tucanato, Lula faça ressuscitar também o espectro de seu maior inimigo.


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