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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O castelo de Lula
SÃO PAULO - Há muito em comum entre o mundo encantado do Palácio
da Alvorada e o castelo de "Caras".
Sob Luiz Inácio Lula da Silva, a Presidência da República se converteu
numa espécie de espetáculo -não o
do crescimento, cancelado até segunda ordem por força dos fatos. O que o
marketing oficial se esforçou desde o
início para vender como ganho democrático -o estilo espontâneo, informal, "quente" e fisicamente próximo do povo- parece, antes, uma
maneira muito pouco republicana de
exercício do poder.
Em gestos e discursos, aos quais não
faltam a tônica palanqueira e o acento infanto-sentimental, Lula parece
vítima de seu próprio êxito. Aos poucos, vai se desacreditando entre gafes
e bravatas ao mesmo tempo em que
aprofunda a confusão entre o público
e o privado. Em seu show, joga no lixo, junto com a pompa, a liturgia mínima exigida pelo cargo.
Nisso o acompanha, literalmente
como sombra, a primeira-dama, Marisa Letícia, de quem se pode dizer
que é praticamente muda, mas não
discreta. A única entrevista que concedeu até agora, para uma revista feminina convencional, escolhida a dedo, é uma coleção de platitudes domésticas. Sua economia verbal contrasta com a pouca cerimônia que
dedicou ao recebimento de favores e
pequenos cuidados cosméticos.
O casal Cardoso teria muito a ensinar, neste capítulo, aos atuais inquilinos do Alvorada. Sua conduta foi
exemplar num governo de resto marcado por intelectuais-banqueiros que
transitaram com desenvoltura ímpar
entre o público e o privado.
Descontadas as diferenças, que
existem, o estilo Lula-Marisa está
mais próximo de Collor-Rosane do
que pode parecer. Basta comparar,
como exemplo, os termos usados por
ambos para exaltar a própria masculinidade e o papel que cada uma das
primeiras-damas reservou a si.
É até uma ironia que, depois de sucumbir ao programa histórico do tucanato, Lula faça ressuscitar também
o espectro de seu maior inimigo.
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