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NELSON MOTTA
The best, os bestas
RIO DE JANEIRO - Em 1966, aos
20 anos, no velho estádio de Liverpool, vi o Brasil de Pelé e Garrincha
ser eliminado da Copa por Portugal.
Não deu nem para chorar, era esperado: vínhamos de uma derrota
acachapante para a Hungria, só um
milagre nos salvaria. Os bicampeões de 62 tinham envelhecido, as
táticas estavam superadas, o time
jamais conseguiu jogar bem.
Em 1982, chorei na tribuna de
imprensa do Sarriá, em Barcelona,
assistindo perplexo à derrota do invencível time dos nossos sonhos
para a Itália de Paolo Rossi. Chorei
de dor e de frustração, pelo sentimento de perda irreparável e de injustiça poética, de compaixão pelos
jogadores-artistas que nos deram
tantas alegrias.
Em 1986, em Guadalajara, ao lado
de João Ubaldo Ribeiro, quase chorei de raiva quando Julio César perdeu o pênalti e fomos eliminados
pela França de Platini, no único jogo em que a seleção jogou bem e nos
deu orgulho, alegria e esperança.
Jogamos muito, dominamos, Zico
perdeu um pênalti, perdemos gols,
mas aplaudi calorosamente a saída
dos bravos perdedores.
Em 1990, em Turim, tive o desprazer de testemunhar a derrota de
um time horrível, mas justamente
na primeira e única vez em que conseguiu jogar quase bem. O time era
fraco, mas atacou, ameaçou, lutou o
tempo inteiro e tomou um gol no final. Deu pena.
Agora, deu vergonha e raiva. Os
egos não couberam em uma equipe,
a estratégia e o comando falharam,
as desculpas são esfarrapadas como
as dos mensaleiros. "The best" me
bestificaram.
Ou, parafraseando a genial reflexão de Lula sobre a morte, se a fabulosa seleção brasileira é eliminada
de uma Copa, por seus próprios erros, você é eliminado com prazer,
porque sabe que nosso time é o melhor -é como morrer nas mãos do
doutor Adib Jatene.
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