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MARCOS NOBRE
Obama lavou as mãos
ENQUANTO o governo de
George W. Bush ignorava a
América Latina, o Brasil brincou de líder regional. Depois da
tentativa de golpe contra Hugo
Chávez, em dezembro de 2002, o
governo brasileiro organizou o
"grupo de amigos da Venezuela".
Com o governo Bush já nos seus
estertores, o Brasil teve papel protagonista no caso da crise boliviana
de setembro de 2008, quando foi
convocada reunião de emergência
da Unasul, entidade regional que
ninguém mais lembra o que significa ou para que serve.
Com razão, o governo brasileiro
hoje condena veementemente o
golpe em Honduras. Mas, no momento, essa condenação não colabora de fato para a superação de
um impasse que pode bem acabar
em tragédia. Não se vê nenhuma
iniciativa brasileira para criar um
"grupo de amigos de Honduras" ou
algo similar. Não se vê o Brasil buscando uma solução negociada para
o conflito. E a razão é simples: o
Brasil não se mexe porque acredita
que os EUA retomaram seu lugar
de líder inconteste das Américas.
Pode até ser que isso seja verdade no atacado. Mas não no caso de
Honduras. O governo Obama pode
dizer que resolveu tomar uma posição prudente e que buscou reforçar o papel institucional da OEA
(Organização dos Estados Americanos), mas o fato é que resolveu
fingir-se de morto.
Tem lá suas razões para isso. Não
por uma qualquer importância estratégica insuspeita do país centro-americano na geopolítica mundial.
Mas porque o caso de Honduras
pode produzir o primeiro grande
precedente de intervenção política
externa da era Obama.
Entrando diretamente no conflito, os EUA poderão ser acusados de
abusarem de seu poderio militar e
econômico contra um pequeno
país bananeiro. Se mantêm sua posição dúbia, podem ser considerados oportunistas que não defendem de fato a democracia.
De maneiras diferentes, os governos de Bill Clinton e de George
W. Bush foram extensões canhestras da Guerra Fria. O primeiro inventou a guerra humanitária. O segundo, a guerra preventiva. Obama
veio para enterrar esses esqueletos
e negociar uma nova "pax" americana. Mas o roteiro está sendo escrito à medida que o filme vai sendo rodado. E Honduras não estava
no script. Só que o impasse está
instalado e não vai se dissolver no
ar. A estratégia protelatória e risível de "ultimatos" da OEA já se esgotou. O confronto é iminente. E o
governo Obama simplesmente lavou as mãos.
É justamente nesse momento de
inação do governo norte-americano que o Brasil deveria aparecer e
dizer a que veio. Brincar de líder regional quando o dono do pedaço tira férias é fácil.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras
nesta coluna.
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