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ELIANE CANTANHÊDE
Levou, mas não ganhou
BRASÍLIA - O governo ganhou, mas o governo perdeu. Eram necessários
308 votos para aprovar a reforma da
Previdência na Câmara, e a proposta
teve 358, 60 deles da oposição: 28 do
PSDB e 32 do PFL. Se dependesse só
do PT e dos aliados, faltariam 10.
Não se trata de operação aritmética, mas de cálculo político: quem ganhou não foi Lula, foi a reforma
-que não é "do governo", pois tem
apoio e rejeição independentemente
de vinculação ou não com o Planalto.
Petistas votaram contra por princípio, como muitos tucanos e pefelistas
votaram a favor.
Dos partidos aliados, o PPS foi um
que votou em unanimidade a favor.
Porque é mais fiel do que o PT ou do
que o PC do B? Não. Porque é um
partido reformista -a favor, pois,
pois, da reforma (a repetição é proposital). Isso não significa que será sempre unânime a favor do governo.
Em resumo, o que estava em jogo
não era apoiar ou não o governo Lula, mas aprovar ou não a reforma. O
resultado pode não se repetir em votações futuras, de outros temas.
Sendo assim, temos que o governo
ganhou porque a reforma, apesar dos
recuos e dos recuos dos recuos, acabou sendo aprovada na Câmara. E o
governo perdeu porque constatou
-aliás, constatamos todos- que ele
não tem maioria, não tem todo o PT,
enfrenta defecções no PC do B e no
PDT, só tem parte do PMDB e do PP
e precisa do PSDB e do PFL.
Aliás, precisa também do velho
ACM cansado de guerra, porque a
bancada baiana se comportou como
bancada baiana: dos 39, 3 votaram
contra (Geddel, do PMDB, Aleluia,
do PFL, e Alice Portugal, do PT) e um
se absteve (Walter Pinheiro, do PT).
O resto bateu ponto. E, nesse caso,
não foi só pró-reforma; foi pró-governo. ACM não manda em todos, mas
manipula muitos.
O governo Lula passa pelo primeiro
teste no Congresso informando ao
distinto público e ao mercado que,
ufa!, a reforma foi aprovada. Mas
nunca se sabe o que vem pela frente,
além de muita negociação, sacolejos
e recuos. Nada é líquido e certo. Muito menos os votos do próprio PT.
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