UOL




São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Levou, mas não ganhou

BRASÍLIA - O governo ganhou, mas o governo perdeu. Eram necessários 308 votos para aprovar a reforma da Previdência na Câmara, e a proposta teve 358, 60 deles da oposição: 28 do PSDB e 32 do PFL. Se dependesse só do PT e dos aliados, faltariam 10.
Não se trata de operação aritmética, mas de cálculo político: quem ganhou não foi Lula, foi a reforma -que não é "do governo", pois tem apoio e rejeição independentemente de vinculação ou não com o Planalto. Petistas votaram contra por princípio, como muitos tucanos e pefelistas votaram a favor.
Dos partidos aliados, o PPS foi um que votou em unanimidade a favor. Porque é mais fiel do que o PT ou do que o PC do B? Não. Porque é um partido reformista -a favor, pois, pois, da reforma (a repetição é proposital). Isso não significa que será sempre unânime a favor do governo.
Em resumo, o que estava em jogo não era apoiar ou não o governo Lula, mas aprovar ou não a reforma. O resultado pode não se repetir em votações futuras, de outros temas.
Sendo assim, temos que o governo ganhou porque a reforma, apesar dos recuos e dos recuos dos recuos, acabou sendo aprovada na Câmara. E o governo perdeu porque constatou -aliás, constatamos todos- que ele não tem maioria, não tem todo o PT, enfrenta defecções no PC do B e no PDT, só tem parte do PMDB e do PP e precisa do PSDB e do PFL.
Aliás, precisa também do velho ACM cansado de guerra, porque a bancada baiana se comportou como bancada baiana: dos 39, 3 votaram contra (Geddel, do PMDB, Aleluia, do PFL, e Alice Portugal, do PT) e um se absteve (Walter Pinheiro, do PT). O resto bateu ponto. E, nesse caso, não foi só pró-reforma; foi pró-governo. ACM não manda em todos, mas manipula muitos.
O governo Lula passa pelo primeiro teste no Congresso informando ao distinto público e ao mercado que, ufa!, a reforma foi aprovada. Mas nunca se sabe o que vem pela frente, além de muita negociação, sacolejos e recuos. Nada é líquido e certo. Muito menos os votos do próprio PT.


Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torres Freire: Terapia para o caos mental
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Heróis e vilões
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.