São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Os profissionais

SÃO PAULO - Era uma vez um tempo em que os adversários de Paulo Salim Maluf diziam, brincando: "A gente odeia o Maluf há tanto tempo que nem lembra mais por quê".
Bom, a piadinha materializou-se na noite de quinta-feira nos estúdios da TV Bandeirantes, durante o primeiro debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo.
Os adversários de Maluf não se lembraram, em momento algum, de tocar na mais recente (recente?) acusação ao ex-prefeito, a de possuir uma conta não declarada (e jamais admitida) no exterior.
Foi de fato esquecimento ou conveniência? Como é que o pessoal do PT, por exemplo, poderia lembrar-se do assunto se altos funcionários da administração federal petista estão sendo acusados do mesmo deslize (viu como estou suave hoje?).
Era uma vez um tempo em que qualquer suspeita do gênero faria os petistas babarem de indignação, pedirem a mais rigorosa das investigações, clamarem por uma CPI. Agora, o ministro José Dirceu vai ao deboche com a ética ao dizer que o caso Henrique Meirelles não lhe causa uma só ruga de preocupação.
Qualquer funcionário público sério teria, sim, rugas de preocupação sempre que o ocupante de algum cargo importante na sua administração ficasse sob suspeita.
Mas o que você poderia esperar senão o deboche de quem trouxe para o coração do Palácio do Planalto um certo Waldomiro Diniz?
Tudo somado, fica fácil entender a frase do também petista Rui Falcão, candidato a vice na chapa de Marta Suplicy, sobre o desempenho de Maluf no debate: "É do ramo".
É do ramo, sim. Como Henrique Meirelles é do ramo (da banca), como José Dirceu é do ramo (dos joguinhos de poder e da política).
A pátria pode, pois, descansar tranqüilamente: estamos nas mãos de profissionais.


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