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CARLOS HEITOR CONY
As time goes by
RIO DE JANEIRO - Quando foi anunciado o Prêmio Nobel concedido a
Isaac Singer, a mídia correu para entrevistar o escritor, que, apesar de ser
famoso no mundo todo, e pelo fato de
só escrever em iídiche, não era tão
popular assim, nem conhecido e consumido pelo grande público. É bem
verdade que ele não dava nenhuma
bola para isso, não fazia questão de
ser famoso nem conhecido. Por isso
sempre se recusou a escrever em inglês.
Somando todas as perguntas que
lhe fizeram, os profissionais da mídia
chegaram a duas questões básicas:
"O senhor está surpreendido com o
prêmio? O senhor está feliz?".
Anos mais tarde, lembrando o assédio, Singer disse que gostaria de se estender sobre o que ele considerava
surpresa e felicidade. Mas notou que
não havia clima. E, além disso, estava muito cansado. Respondeu que
sim, estava surpreso e feliz.
Quinze minutos depois, quando todos tinham ido embora, surgiu um
repórter retardatário, correspondente de um jornal europeu. Pediu para
ser recebido. Singer atendeu-o, colocando-se à disposição do jornalista,
que, por sinal, também falava iídiche. E as duas perguntas fatais foram
feitas: o senhor está surpreso? Está feliz?
Como bom judeu, o escritor respondeu com outra pergunta: "Por quanto tempo pode um homem ficar surpreso? Por quanto tempo pode um
homem ficar feliz?".
Lembro também aquela historinha
contada por um autor francês cujo
nome não lembro agora. Duas velhinhas faziam tricô na sala quando
uma delas pergunta: "Que horas
são?". A outra consultou o relógio e
respondeu: "São quatro horas". E,
sendo quatro horas, decidiram descansar um pouco. Deixaram de lado
o tricô e foram à janela, ver como ia o
mundo e o dia. Depois voltaram ao
tricô e a mesma velhinha perguntou:
"Que horas são". A outra respondeu:
"Quatro e quinze". A primeira velhinha suspirou fundo: "Como o tempo
passa!".
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