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CONTRA O RELÓGIO
Um país acostumado a administrar seus problemas no curto prazo pode considerar um alívio a
estimativa de que há reserva de energia elétrica suficiente para sustentar
um crescimento anual de 3,5% a 4%
do PIB por um período de mais dois
ou três anos. Quando, no entanto,
observa-se o futuro em perspectiva
mais alongada, é inevitável constatar
que o Brasil está às vésperas de uma
grave crise energética que, se não for
evitada, poderá novamente arruinar
as chances de a economia ingressar
num ciclo mais vigoroso e contínuo
de crescimento.
Levantamento realizado por esta
Folha com as principais distribuidoras da região Sudeste demonstrou
que o aumento médio do consumo
de energia na indústria foi superior
ao crescimento do PIB nos primeiros
seis meses de 2004 em relação ao
mesmo período de 2003. Especialistas são unânimes em diagnosticar
um quadro preocupante, que poderá
se tornar desastroso caso novos investimentos não sejam realizados.
Depois de muita demora, negociações e debates, o governo apresentou
um novo modelo para regular o investimento e a exploração da energia
no país. Como era previsível, o pêndulo, desta vez, oscilou na direção de
uma maior presença do Estado -o
que não é por si uma insensatez, numa área em que modelos privatistas
não raro apresentam problemas,
mesmo em países de capitalismo
avançado, como os EUA. A situação
vivida nos últimos anos pela Califórnia, o mais rico Estado norte-americano, não parece deixar dúvidas
quanto a isso.
É forçoso também constatar que o
sistema que emergiu das privatizações do governo Fernando Henrique
Cardoso apresentou falhas e redundou na indesculpável "surpresa" de
2001, quando uma crise de oferta de
energia veio a abortar a retomada do
crescimento econômico.
Isso não significa que as novas regras apresentadas pela administração petista estão fadadas ao sucesso.
Ainda falta a elas o teste da realidade.
E é bom que ele venha logo, pois o
país está correndo contra o relógio.
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