São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2004

Próximo Texto | Índice

CONTRA O RELÓGIO

Um país acostumado a administrar seus problemas no curto prazo pode considerar um alívio a estimativa de que há reserva de energia elétrica suficiente para sustentar um crescimento anual de 3,5% a 4% do PIB por um período de mais dois ou três anos. Quando, no entanto, observa-se o futuro em perspectiva mais alongada, é inevitável constatar que o Brasil está às vésperas de uma grave crise energética que, se não for evitada, poderá novamente arruinar as chances de a economia ingressar num ciclo mais vigoroso e contínuo de crescimento.
Levantamento realizado por esta Folha com as principais distribuidoras da região Sudeste demonstrou que o aumento médio do consumo de energia na indústria foi superior ao crescimento do PIB nos primeiros seis meses de 2004 em relação ao mesmo período de 2003. Especialistas são unânimes em diagnosticar um quadro preocupante, que poderá se tornar desastroso caso novos investimentos não sejam realizados.
Depois de muita demora, negociações e debates, o governo apresentou um novo modelo para regular o investimento e a exploração da energia no país. Como era previsível, o pêndulo, desta vez, oscilou na direção de uma maior presença do Estado -o que não é por si uma insensatez, numa área em que modelos privatistas não raro apresentam problemas, mesmo em países de capitalismo avançado, como os EUA. A situação vivida nos últimos anos pela Califórnia, o mais rico Estado norte-americano, não parece deixar dúvidas quanto a isso.
É forçoso também constatar que o sistema que emergiu das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso apresentou falhas e redundou na indesculpável "surpresa" de 2001, quando uma crise de oferta de energia veio a abortar a retomada do crescimento econômico.
Isso não significa que as novas regras apresentadas pela administração petista estão fadadas ao sucesso. Ainda falta a elas o teste da realidade. E é bom que ele venha logo, pois o país está correndo contra o relógio.


Próximo Texto: Editoriais: A GUERRA DE PUTIN
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.