São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2004

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A GUERRA DE PUTIN

As reações do presidente da Rússia, Vladimir Putin, à tragédia de Beslan não deixam dúvidas de que o governo russo caminha para se tornar ainda mais intransigente e implacável na repressão aos rebeldes separatistas tchetchenos. Ao falar numa ofensiva do "terrorismo internacional" contra a nação, mencionar a Al Qaeda e clamar por leis mais duras, Putin tratou de esmaecer as cores locais da questão tchetchena para inscrevê-la no âmbito da guerra ao terror travada pelos Estados Unidos.
A monstruosidade de Beslan e o fato de que a Tchetchênia é uma república de maioria muçulmana praticamente impelem Putin a se alistar na campanha antiterrorista de seu colega George W. Bush -como já fizera o premiê israelense Ariel Sharon.
Parece certo que o presidente russo conseguirá da Duma os poderes especiais que deseja. Se os próprios EUA, com toda a sua tradição de respeito às liberdades civis, restringiram direitos individuais em nome da segurança após o 11 de Setembro, não serão as débeis instituições russas que impedirão o Kremlin de atuar do modo que lhe parecer mais eficiente no combate ao terror.
Com isso, o terrorismo vai cumprindo o seu sinistro desígnio de semear o ódio e fomentar um ambiente de guerra no qual se ampliam as ações militares dos Estados nacionais atingidos e se estreitam as perspectivas de negociação política.
Os impactos de Beslan não devem ficar restritos à Rússia, assim como os do 11 de Setembro não se limitaram aos EUA. Outros líderes mundiais que enfrentam rebeliões se sentirão autorizados a não limitar o uso da força contra um problema que vai assumindo dimensão global.
Certamente que não há solução à vista para o terrorismo, um fenômeno que veio para ficar e, presume-se, buscar ações cada vez mais espetaculares e chocantes. Mesmo no "front" político o campo de ação é limitado, embora de modo nenhum nulo. Se, no caso da Al Qaeda, as aspirações são difusas e embasadas em fanatismo delirante, o mesmo não vale para tchetchenos e palestinos. Não se trata de ceder à chantagem, mas de não abdicar da política, pois é nisso que se concentra, exatamente, parte substancial da estratégia do terror.


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