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A GUERRA DE PUTIN
As reações do presidente da
Rússia, Vladimir Putin, à tragédia de Beslan não deixam dúvidas de
que o governo russo caminha para se
tornar ainda mais intransigente e implacável na repressão aos rebeldes
separatistas tchetchenos. Ao falar
numa ofensiva do "terrorismo internacional" contra a nação, mencionar
a Al Qaeda e clamar por leis mais duras, Putin tratou de esmaecer as cores
locais da questão tchetchena para
inscrevê-la no âmbito da guerra ao
terror travada pelos Estados Unidos.
A monstruosidade de Beslan e o fato de que a Tchetchênia é uma república de maioria muçulmana praticamente impelem Putin a se alistar na
campanha antiterrorista de seu colega George W. Bush -como já fizera
o premiê israelense Ariel Sharon.
Parece certo que o presidente russo
conseguirá da Duma os poderes especiais que deseja. Se os próprios
EUA, com toda a sua tradição de respeito às liberdades civis, restringiram direitos individuais em nome da
segurança após o 11 de Setembro,
não serão as débeis instituições russas que impedirão o Kremlin de
atuar do modo que lhe parecer mais
eficiente no combate ao terror.
Com isso, o terrorismo vai cumprindo o seu sinistro desígnio de semear o ódio e fomentar um ambiente
de guerra no qual se ampliam as
ações militares dos Estados nacionais atingidos e se estreitam as perspectivas de negociação política.
Os impactos de Beslan não devem
ficar restritos à Rússia, assim como
os do 11 de Setembro não se limitaram aos EUA. Outros líderes mundiais que enfrentam rebeliões se sentirão autorizados a não limitar o uso
da força contra um problema que vai
assumindo dimensão global.
Certamente que não há solução à
vista para o terrorismo, um fenômeno que veio para ficar e, presume-se,
buscar ações cada vez mais espetaculares e chocantes. Mesmo no "front"
político o campo de ação é limitado,
embora de modo nenhum nulo. Se,
no caso da Al Qaeda, as aspirações
são difusas e embasadas em fanatismo delirante, o mesmo não vale para
tchetchenos e palestinos. Não se trata de ceder à chantagem, mas de não
abdicar da política, pois é nisso que
se concentra, exatamente, parte
substancial da estratégia do terror.
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