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Surpresa inflacionária
Índices de preços aumentam devido à alta de alimentos e serviços, mas inflação permanece dentro da meta
OS ÍNDICES de preços
têm surpreendido nas
últimas semanas. Segundo o IBGE, o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registou aumento de
0,47% em agosto, praticamente
o dobro do percentual verificado
em julho, de 0,24%. No acumulado do ano, alcançou 2,8%. Nos 12
meses que se encerraram em
agosto, 4,18%.
A pressão de alta vem sendo
exercida pelos preços dos alimentos. No ano, o leite já subiu
54%; o tomate, quase 10%; o
frango, 6%. Os preços dos produtos agrícolas estão sendo impulsionados pela entressafra, pelo
aumento da demanda mundial,
pela quebra de safra em importantes países produtores -em
especial a Austrália e a Argentina- e pelo crescimento da demanda brasileira (puxada pelo
incremento da renda).
Assim, é bastante provável que
se trate de altas transitórias, a arrefecer com a normalização das
estruturas de produção ao longo
dos próximos meses.
Registram-se também pressões nos preços dos serviços
-conserto de automóvel, empregados domésticos, plano de
saúde. Desta vez, os preços administrados -vilões da inflação no
passado- estão ajudando a conter altas ainda maiores do IPCA.
Em julho, a redução nas tarifas
de energia elétrica contrabalançou outros aumentos. Em setembro será a vez do telefone fixo, cujas contas deverão cair em
decorrência da mudança de pulso para minutos em seis regiões
metropolitanas.
Assim, os aumentos registrados ainda não mostram risco de
uma alta generalizada de preços.
Se, entretanto, as pressões persistirem nos próximos meses, estaremos diante de uma mudança
no patamar da inflação, que ultrapassaria os 4% ao ano -ainda
abaixo do centro da meta. Para
2007, 2008 e 2009, o CMN definiu que a variação dos preços pode alcançar 4,5%, com tolerância
de dois pontos percentuais, para
cima ou para baixo. O Boletim
Focus projetou um IPCA de
3,92% em 2007 e 4% em 2008.
É nesse contexto que o Copom
reduziu na quarta-feira o ritmo
de queda da taxa de juros básica
de 0,50 ponto percentual para
0,25, configurando o 18º corte
consecutivo em um período de
dois anos. Infelizmente, o texto
divulgado pelo colegiado despertou dúvidas sobre a continuidade dos cortes.
Esse movimento sólido de
queda dos juros e de crescimento
do crédito doméstico fomentou
uma expansão do parque produtivo. Têm ocorrido aumentos
significativos na produção de
equipamentos e de importação
de bens de capital. Um sinal evidente de que os empresários domésticos desencadearam um ciclo de investimento.
Nesse cenário, os gestores da
política monetária precisam
atuar com sensibilidade. Uma interrupção no movimento de queda dos juros pode abortar esse
processo de expansão da economia brasileira. Além disso, se o
banco central americano iniciar
o movimento de queda dos juros,
como se antecipa, poderá ampliar a diferença entre os EUA e o
Brasil, aumentando ainda mais a
pressão sobre a taxa de câmbio.
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