São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

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Editoriais

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Surpresa inflacionária

Índices de preços aumentam devido à alta de alimentos e serviços, mas inflação permanece dentro da meta

OS ÍNDICES de preços têm surpreendido nas últimas semanas. Segundo o IBGE, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registou aumento de 0,47% em agosto, praticamente o dobro do percentual verificado em julho, de 0,24%. No acumulado do ano, alcançou 2,8%. Nos 12 meses que se encerraram em agosto, 4,18%.
A pressão de alta vem sendo exercida pelos preços dos alimentos. No ano, o leite já subiu 54%; o tomate, quase 10%; o frango, 6%. Os preços dos produtos agrícolas estão sendo impulsionados pela entressafra, pelo aumento da demanda mundial, pela quebra de safra em importantes países produtores -em especial a Austrália e a Argentina- e pelo crescimento da demanda brasileira (puxada pelo incremento da renda).
Assim, é bastante provável que se trate de altas transitórias, a arrefecer com a normalização das estruturas de produção ao longo dos próximos meses.
Registram-se também pressões nos preços dos serviços -conserto de automóvel, empregados domésticos, plano de saúde. Desta vez, os preços administrados -vilões da inflação no passado- estão ajudando a conter altas ainda maiores do IPCA. Em julho, a redução nas tarifas de energia elétrica contrabalançou outros aumentos. Em setembro será a vez do telefone fixo, cujas contas deverão cair em decorrência da mudança de pulso para minutos em seis regiões metropolitanas.
Assim, os aumentos registrados ainda não mostram risco de uma alta generalizada de preços. Se, entretanto, as pressões persistirem nos próximos meses, estaremos diante de uma mudança no patamar da inflação, que ultrapassaria os 4% ao ano -ainda abaixo do centro da meta. Para 2007, 2008 e 2009, o CMN definiu que a variação dos preços pode alcançar 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo. O Boletim Focus projetou um IPCA de 3,92% em 2007 e 4% em 2008.
É nesse contexto que o Copom reduziu na quarta-feira o ritmo de queda da taxa de juros básica de 0,50 ponto percentual para 0,25, configurando o 18º corte consecutivo em um período de dois anos. Infelizmente, o texto divulgado pelo colegiado despertou dúvidas sobre a continuidade dos cortes.
Esse movimento sólido de queda dos juros e de crescimento do crédito doméstico fomentou uma expansão do parque produtivo. Têm ocorrido aumentos significativos na produção de equipamentos e de importação de bens de capital. Um sinal evidente de que os empresários domésticos desencadearam um ciclo de investimento.
Nesse cenário, os gestores da política monetária precisam atuar com sensibilidade. Uma interrupção no movimento de queda dos juros pode abortar esse processo de expansão da economia brasileira. Além disso, se o banco central americano iniciar o movimento de queda dos juros, como se antecipa, poderá ampliar a diferença entre os EUA e o Brasil, aumentando ainda mais a pressão sobre a taxa de câmbio.


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