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ARGENTINA EM CRISE
A renúncia do vice-presidente
da Argentina, Carlos "Chacho"
Alvarez, é uma consequência política
de um modelo econômico inviável.
O escândalo de suborno que está
na origem da crise envolvia a cooptação de senadores para a aprovação de
uma reforma na legislação trabalhista, considerada essencial para dar sobrevida à âncora cambial argentina.
Alvarez não só critica o Senado e a
corrupção, como faz reparos ao modelo econômico. E, na reforma ministerial da semana passada, o presidente argentino deu ainda mais poderes ao ministro da Economia, Jose
Luis Machinea, que assumiu as atribuições da pasta de infra-estrutura.
A crise política pode levar o governo a perder a maioria na Câmara.
Resta saber como o governo De la
Rúa irá manter a credibilidade em
seus projetos econômicos sem poder
contar com manobras que, como
bem ilustra o escândalo senatorial,
procuravam compensar a falta de
competitividade do país com sacrifícios de direitos trabalhistas.
Trata-se de uma crise econômica e
política que, aliás, não é só argentina. Em vários países da América Latina já não se consegue o consenso
que, nos últimos anos, deu amparo a
reformas estruturais consistentes
com as receitas de ajuste ultraliberal.
O caso argentino é especialmente
dramático. Sem poder desvalorizar o
câmbio, a estabilidade só pode ser
preservada sacrificando o crescimento econômico. Até certo ponto é
possível reduzir custos, inclusive salariais. A tolerância dos sindicatos e
mesmo de toda a sociedade, no entanto, tem limites que o governo argentino parece estar ultrapassando.
Corrupção e recessão, ademais,
são uma combinação política das
mais perversas. O desemprego argentino situa-se na casa dos 15%.
Na prática, a instabilidade argentina pode motivar atitudes ainda mais
cautelosas dos investidores estrangeiros. E a âncora cambial, sem crédito externo nem poder político para
sacrificar ainda mais a população,
torna-se insustentável.
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