São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2000

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ARGENTINA EM CRISE

A renúncia do vice-presidente da Argentina, Carlos "Chacho" Alvarez, é uma consequência política de um modelo econômico inviável.
O escândalo de suborno que está na origem da crise envolvia a cooptação de senadores para a aprovação de uma reforma na legislação trabalhista, considerada essencial para dar sobrevida à âncora cambial argentina.
Alvarez não só critica o Senado e a corrupção, como faz reparos ao modelo econômico. E, na reforma ministerial da semana passada, o presidente argentino deu ainda mais poderes ao ministro da Economia, Jose Luis Machinea, que assumiu as atribuições da pasta de infra-estrutura.
A crise política pode levar o governo a perder a maioria na Câmara.
Resta saber como o governo De la Rúa irá manter a credibilidade em seus projetos econômicos sem poder contar com manobras que, como bem ilustra o escândalo senatorial, procuravam compensar a falta de competitividade do país com sacrifícios de direitos trabalhistas.
Trata-se de uma crise econômica e política que, aliás, não é só argentina. Em vários países da América Latina já não se consegue o consenso que, nos últimos anos, deu amparo a reformas estruturais consistentes com as receitas de ajuste ultraliberal.
O caso argentino é especialmente dramático. Sem poder desvalorizar o câmbio, a estabilidade só pode ser preservada sacrificando o crescimento econômico. Até certo ponto é possível reduzir custos, inclusive salariais. A tolerância dos sindicatos e mesmo de toda a sociedade, no entanto, tem limites que o governo argentino parece estar ultrapassando.
Corrupção e recessão, ademais, são uma combinação política das mais perversas. O desemprego argentino situa-se na casa dos 15%.
Na prática, a instabilidade argentina pode motivar atitudes ainda mais cautelosas dos investidores estrangeiros. E a âncora cambial, sem crédito externo nem poder político para sacrificar ainda mais a população, torna-se insustentável.


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