São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O risco Paraná
ROBERTO REQUIÃO e ASSIS CORRÊA
Do lado da Copel, além do desembolso desmesurado e injustificável de R$ 750 milhões ao ano, na compra de uma quantidade enorme de energia sem condições de comercialização, dada a forte redução do consumo provocada pelo racionamento de 2001, existiam entraves jurídicos de difícil superação. Por sua vez, a Cien, que investira recursos lastreados no dólar em obras e contratos, buscava evitar -tanto quanto lhe parecia possível- a redução dos volumes contratados de energia, ao mesmo tempo em que não via como renunciar à proteção cambial garantida pelas cláusulas de dolarização dos preços de venda. Por isso, não era exatamente uma surpresa ouvir relatos preocupados de que as discussões estavam tensas e pareciam mais próximas de resultar em conflito do que em acordo. Contudo a persistência e, principalmente, a boa vontade dos representantes da Cien e da Copel, a boa fé com que se desenvolveram as negociações foram determinantes para a solução negociada que, ao final, prevaleceu. Mesmo porque a Cien entendia com clareza que não adiantaria manter intactos contratos que levariam o parceiro à falência. Assim, o dispêndio anual de R$ 750 milhões, que asfixiaria a Copel, ficou, neste ano, reduzido a menos da metade (R$ 312 milhões). Ou seja, o que a Copel deixará de pagar num único ano cobre 15 anos do programa Luz Fraterna, lançado no dia 11/9 e que beneficia 700 mil paranaenses de baixa renda com a isenção do pagamento da conta de luz. A dolarização das tarifas foi substituída por mecanismos aceitos pela Aneel, permitindo a legalização e o reconhecimento da operação. O total de energia contratado caiu pela metade, de 800 MW para 400 MW. E a vigência dos contratos foi reduzida de 20 para sete anos, valendo até dezembro de 2009. Em relação à compra de energia da Usina de Itiquira, de propriedade da Tosli Acquisitions, empresa controlada pela norte-americana NGR Energy, o acordo foi também vantajoso. Conseguimos reduzir o preço da energia de Itiquira em cerca de 20%, colocando-o no nível dos preços praticados nos contratos iniciais válidos para a chamada "energia velha", a mais barata disponível no setor elétrico brasileiro. Por fim, vale lembrar que a atual administração da Copel adotou como meta "ser a melhor empresa do setor elétrico no Brasil até 2006, mantendo o equilíbrio entre os interesses da sociedade e dos acionistas". Não se nega ao investidor o direito à remuneração de seu investimento, segundo a lei e o direito brasileiros, que, no caso das sociedades de economia mista, implica o equilíbrio entre o interesse público e o dos acionistas (artigo 238 da Lei das Sociedades Anônimas). Por vezes, o acionista imagina que poderia ganhar mais, quando, aparentemente, o interesse público reduz seus dividendos. No entanto ele se beneficia de iniciativas e providências inclusive de natureza política, que não estão ao alcance de outras empresas. Não há o risco Paraná fantasiado pelos críticos do atual governo do Estado. Risco Paraná nesta administração é, na verdade, uma linha de conduta. A distância mais curta para o desenvolvimento sustentado do nosso Estado e a redução das desigualdades sociais. Roberto Requião, 62, jornalista e advogado, é o governador do Estado do Paraná. Foi senador pelo PMDB-PR (1995-2002) e governador do Estado de 1991 a 94. Assis Corrêa, 57, advogado, é o diretor Jurídico da Copel. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Misabel Abreu Machado Derzi: O Mercosul e a reforma tributária Índice |
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