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CARLOS HEITOR CONY
Direito da direita
RIO DE JANEIRO - A polarização entre o PT e o PSDB, indicada pelas
eleições do último domingo, desmente o princípio básico da democracia,
ou seja, que o poder emana do povo.
A expressão da vontade popular, que
elege seus dirigentes mais próximos,
deveria estabelecer a cadeia do mando público a partir dos vereadores e
prefeitos, uma vez que, antes de habitar um país ou um Estado, todos habitamos uma cidade.
A explicação é simples. O PT é o
partido que está no poder, e o PSDB
dominou o governo federal durante
os oitos anos imediatamente anteriores. Foram e são os donos da bola e,
juntos, formam o escalão vencedor
desta consulta ao eleitorado.
O movimento, portanto, não veio
de cima para baixo, da cúpula para a
base. É uma demonstração de que a
máquina é decisiva para determinar
a vontade do eleitorado, massa de
manobra, mesmo contra a própria
vontade, na hora de escolher aqueles
que devem chegar ao poder.
Em países como os Estados Unidos,
o bipartidarismo é, na realidade, institucional, não serve como exemplo.
O Brasil do tempo imperial também
adotava uma variante do bipartidarismo, na clássica divisão entre liberais e conservadores. Mas, na fase republicana, a tradição fixou-se além
de dois partidos e, na primeira redemocratização que tivemos, após o Estado Novo, tivemos três partidos na
linha de frente, o PSD, centro, a UDN,
direita, e o PTB, esquerda. Bem ou
mal, os três expressavam o espectro
político da nação.
A supremacia eleitoral dos dois últimos partidos que ocuparam o poder, fruto do exercício da máquina
administrativa, pode mostrar uma
tendência do país em se fixar numa
posição de centro-esquerda. Acredito
que seja um cenário ainda artificial.
O PT que está no governo pouco se
difere do PSDB que atrelou o Brasil
ao neoliberalismo, ao pensamento
único do Consenso de Washington e,
tirando os noves fora, ao FMI. Muito
mais à direita do que ao centro.
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