São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

Falta de critério

BRASÍLIA - Até agora, passados tantos meses e tantas certezas, só há uma conclusão quanto à lista da CPI dos Correios: nem todos serão cassados, mas não dá para não cassar ninguém. A questão continua sendo: qual o critério para definir quem vai ou não para o matadouro?
Enquanto isso, vão-se lavando as mãos como Pôncio Pilatos, conforme bem definiu o deputado João Caldas (PL-AL). A CPI despachou a lista para a Corregedoria da Câmara, que despachou para a Mesa Diretora, que vai despachar para o Conselho de Ética, que vai empurrar tudo para o plenário. E, aí, salve-se quem puder. O voto é secreto e todos os critérios são válidos, o que equivale a dizer que não há critério nenhum.
Pela tradição, há três tipos de políticos realmente "cassáveis": quando há provas (no jargão político, "batom na cueca"); quando há anos se sabe que o sujeito não é nada que preste ("o passado condena"); ou se trata de um líder importante ("peixe graúdo).
Exemplos: contra Collor, havia provas e convicção de culpa; contra João Alves, que vivia ganhando na loteria e foi cassado na CPI do Orçamento, a percepção cristalizada de que não era nenhum santo; contra Ibsen Pinheiro, da mesma CPI, era preciso dar um "peixe graúdo" à opinião pública. Descuidado, caiu na rede.
Agora, há os parlamentares que tentam separar quem usou caixa dois de campanha daqueles que pegaram grandes somas para partidos e dos que se locupletaram. E Dirceu é o "peixe graúdo" da vez. O que não dá para concluir nada.
Na solidão da cabine do voto secreto, pode tudo, desde a lealdade ao correligionário até a vingança mais insana contra o adversário. É daí que, vira e mexe, alguém aposta que João Paulo não vai ser cassado. Por falta de provas? Não. Por ser "só" caixa dois? Não. Então por quê? Porque, como presidente da Câmara, foi camarada com os deputados. Fez muitos "amigos".
Ou seja: é a total falta de critério. Logo, tudo pode acontecer.

@ - elianec@uol.com.br


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