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ELIANE CANTANHÊDE
Falta de critério
BRASÍLIA - Até agora, passados tantos meses e tantas certezas, só há uma
conclusão quanto à lista da CPI dos
Correios: nem todos serão cassados,
mas não dá para não cassar ninguém. A questão continua sendo:
qual o critério para definir quem vai
ou não para o matadouro?
Enquanto isso, vão-se lavando as
mãos como Pôncio Pilatos, conforme
bem definiu o deputado João Caldas
(PL-AL). A CPI despachou a lista para a Corregedoria da Câmara, que
despachou para a Mesa Diretora, que
vai despachar para o Conselho de
Ética, que vai empurrar tudo para o
plenário. E, aí, salve-se quem puder.
O voto é secreto e todos os critérios
são válidos, o que equivale a dizer
que não há critério nenhum.
Pela tradição, há três tipos de políticos realmente "cassáveis": quando há
provas (no jargão político, "batom na
cueca"); quando há anos se sabe que
o sujeito não é nada que preste ("o
passado condena"); ou se trata de um
líder importante ("peixe graúdo).
Exemplos: contra Collor, havia provas e convicção de culpa; contra João
Alves, que vivia ganhando na loteria
e foi cassado na CPI do Orçamento, a
percepção cristalizada de que não era
nenhum santo; contra Ibsen Pinheiro, da mesma CPI, era preciso dar um
"peixe graúdo" à opinião pública.
Descuidado, caiu na rede.
Agora, há os parlamentares que
tentam separar quem usou caixa dois
de campanha daqueles que pegaram
grandes somas para partidos e dos
que se locupletaram. E Dirceu é o
"peixe graúdo" da vez. O que não dá
para concluir nada.
Na solidão da cabine do voto secreto, pode tudo, desde a lealdade ao
correligionário até a vingança mais
insana contra o adversário. É daí
que, vira e mexe, alguém aposta que
João Paulo não vai ser cassado. Por
falta de provas? Não. Por ser "só" caixa dois? Não. Então por quê? Porque,
como presidente da Câmara, foi camarada com os deputados. Fez muitos "amigos".
Ou seja: é a total falta de critério.
Logo, tudo pode acontecer.
@ - elianec@uol.com.br
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