São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Grandão de calça curta

BRUXELAS - O Brasil está sendo tratado pelos europeus como parte do, digamos, quadrado mágico das negociações comerciais planetárias. Paolo Guizotti, que supervisiona para a Comissão Européia o conjunto das negociações, chega a dizer que o Brasil, com Índia, Estados Unidos e a própria UE, é parte do "novo quad".
O "quad" anterior (o quadrado mágico anterior) era formado por EUA, UE, Japão e Canadá, ou seja, por três das maiores potências do planeta, o bloco que rivaliza com os Estados Unidos em matéria de capacidade econômica.
Essa comparação basta para que se entenda o tamanho do "upgrade" que os europeus estão dando ao Brasil -desproporcional, de resto, ao reduzido peso que o país tem no comércio internacional. Mas o afago não vem de graça.
Peter Mandelson, o comissário europeu para o comércio e, como tal, a mais alta autoridade européia em negociações internacionais, cobra, por exemplo, que Brasil (e a Índia, o outro emergente no suposto "novo quad") desempenhe um "papel de liderança também em bens industriais e em serviços".
Tradução: além de cobrar a abertura agrícola do mundo rico, ajudem a liberalizar outros setores, o que está longe de ser uma prioridade para o Brasil, centrado na agricultura.
Mais diretamente, a eurodeputada socialista alemã Erika Mann diz que "o Brasil não está administrando adequadamente o seu novo papel global". Para ela -o que, de resto, é consenso entre os eurodeputados-, o nome do jogo nas negociações comerciais é "eu faço, vocês fazem". Ou seja, se o Brasil quer concessões na agricultura, terá que fazê-las nas áreas de interesse dos europeus.
Aí é que começa o problema: o Brasil, sempre afogado no curto-prazismo, não consegue saber direito o que quer fazer quando crescer. Já cresceu, pelo menos visto de longe.
PS - Errei o número de deputados brasileiros no texto de ontem. São 513, não 581.

@ - crossi@uol.com.br


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