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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Esquerdas e ruínas
SÃO PAULO - Professor emérito
da USP radicado em Paris há vários
anos, provavelmente o maior marxólogo (mas não marxista) do país,
o filósofo Ruy Fausto talvez se sinta
à vontade no epíteto de patinho feio
da intelectualidade brasileira. Menos pela graça de seus colegas do
que pela insistência com que sua
voz isolada se levanta contra os
"descaminhos da esquerda" local.
É esse o tema central do livro
"Outro Dia" (editora Perspectiva),
que o autor lança hoje em São Paulo, reunindo intervenções públicas,
textos e entrevistas à imprensa nos
últimos anos. Há ensaios sobre as
experiências totalitárias do século
20, outros tratando de ética e universidade, um capítulo discutindo a
eleição de Sarkozy na França e outro sobre o regime da ilha de Fidel.
Mas o coração do livro está nos
textos sobre a política brasileira,
quando o autor faz o mapa das ruínas da esquerda: de um lado, há os
adeptos do "petismo vulgar", lenientes em relação à corrupção, para quem o mensalão foi invenção da
mídia; de outro, o "revolucionarismo", que se desmembra em duas
vertentes, aquela das viúvas do bolchevismo, e outra, niilista, para a
qual o mundo não tem mais saídas.
A discussão deve parecer bizantina aos mortais que dão duro para
ganhar a vida. De fato, mas a complacência com a ditadura cubana, o
fascínio pelo populismo chavista ou
o desapreço pelas conquistas da democracia não são temas do passado.
Se é assim, uma boa alma poderia
perguntar: mas por que ainda ser de
esquerda? Para Fausto, pela convicção de que é possível trilhar um
caminho teórico e político em que
defesa das liberdades e empenho
contra as desigualdades confluam.
Social-democracia reciclada?
Talvez. Tratando da crise econômica mundial, o autor diz que "o mercado capitalista, endeusado e naturalizado até ontem, aparece agora
como um menino travesso e irresponsável", o que muda o foco e amplia o horizonte do debate. De acordo, desde que esteja claro que esse
menino levado é filho único. E, até
prova em contrário, filho eterno.
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