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RUY CASTRO
Títulos
RIO DE JANEIRO - Na bolsa de títulos mais repetitivos da imprensa
brasileira, "Um olhar sobre..." começa enfim a ser aposentado. E já
não era sem tempo. Adotado por
nós com grande atraso, sua matriz
francesa, "Un regard sur...", está fora de moda em Paris desde 1970.
Mas, até outro dia, era uma doença
por aqui: nove em dez artigos nos
cadernos culturais eram intitulados "Um olhar sobre...". Aí seguia-se aquilo sobre o que alguém estava
lançando "um olhar": o rock grunge, a Revolução de 1932, os filmes
do Mazzaropi.
Nós, da imprensa, somos assim.
Quando adotamos uma fórmula,
entregamo-nos a ela com fervor.
Por exemplo, desde que passamos a
usar títulos de filmes para criar títulos de matérias, nunca mais paramos. O auge desse macete foi na revista "Manchete", nos anos 60 e 70,
porque seu diretor, o querido Justino Martins, o achava divertido.
Daí que, de repente, tudo se tornou "A hora e a vez de..." ou "Quem
tem medo de...?", tirados de "A Hora e a Vez de Augusto Matraga",
conto de Guimarães Rosa, e de
"Quem Tem Medo de Virginia
Woolf?", peça de Edward Albee,
ambos filmados com enorme sucesso. Precisávamos ficar atentos para
que cada título, ou suas variações,
só saísse uma vez por edição.
Eu próprio, redator da "Manchete" em 1972, cometi um, e infame.
Era o apogeu dos faroestes italianos, com títulos tipo "Django não
perdoa. Mata!". Caiu-me à mesa
uma matéria sobre o duelo mundial
de xadrez entre o americano Bobby
Fischer e o russo Boris Spassky, disputado em Reykjavík, na Islândia.
Fischer estava ganhando todas e,
na hora de titular, nem titubeei:
"Fischer não perdoa. Mate!". Justino adorou. Nem ele nem eu sabíamos que, no xadrez de alto nível (no
de baixo nível também), o mate não
chega a acontecer. O perdedor tomba o rei muito antes.
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