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ELIANE CANTANHÊDE
Política e bruxaria
BRASÍLIA - Afinal de contas, quem
venceu o primeiro turno?
Dilma ganhou porque ganhou
mesmo. Teve 14,3 pontos a mais,
quando a regra diz que quem vence
o primeiro turno vence o segundo e
está virtualmente eleito.
Mas Dilma também perdeu, e
muito, porque ela e Lula cantaram
vitória antes da hora e houve uma
reversão de expectativas. Isso suscita uma série de lugares-comuns,
como: Dilma caiu do cavalo, a candidata tropeçou no salto alto, ou a
onda morreu na praia.
São expressões que "colam",
porque carimbam o resultado e se
disseminam como se fossem uma
tendência. Principalmente combinadas à postura de Dilma no segundo turno: voz cansada, olheiras
profundas, parecendo menos otimista, até um tanto descomposta,
cercada de gente sorumbática. E
sem Lula à vista.
Com Serra, ocorreu o oposto: ele
ganhou porque passou a maior parte da campanha engolindo sapos e
nossa insistente previsão de que estava morto e ressurgiu das cinzas
para o segundo turno.
Daí porque o contraste: Dilma,
com 46,9%, reapareceu com ar derrotado; Serra, com apenas 32,6%,
comemorou como se eleito estivesse, cercado de amigos sorridentes e
com ar confiante -aliás, como
nunca se vira nesta campanha.
Mas Serra "perdeu perdendo",
como disse Marina Silva às vésperas do dia 3, porque entra na reta final em forte desvantagem numérica e de condições. Dilma saiu do
primeiro e entrou no segundo turno
com mais partidos, mais dinheiro, a
máquina e gente fazendo sua campanha por toda a parte.
O jogo só empata agora no quesito TV e rádio, pois os dois candidatos passam a ter um tempo igual.
Mas, se os programas são fundamentais e consolidam imagens e
discurso, não fazem mágica.
Mágica, só com política, articulação e sobretudo vontade. E, como
se tem visto na prática, uma boa dose de bruxaria ajuda um bocado.
elianec@uol.com.br
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