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FERNANDO RODRIGUES
A ética e o voto
BRASÍLIA - Há um efeito político-eleitoral principal no julgamento
do escândalo do mensalão tucano-mineiro. Trata-se do acelerado processo de assemelhação entre os
partidos brasileiros.
Já houve o mensalão de Lula, do
PT e adjacências. Agora, chegou a
vez de o PSDB tomar um calor da
Justiça. No Legislativo, mais de 300
congressistas envolveram-se em
estripulias e demonstraram falta de
compostura neste ano. No Rio
Grande do Sul, a governadora tucana, Yeda Crusius, enredou-se num
rumoroso episódio cujo desfecho
quase redundou em seu impeachment. Vai prevalecendo, portanto,
um dos mais nefandos e equivocados axiomas da política: eles são
todos iguais.
O discurso da ética nunca deu
muito certo no Brasil. O falso moralismo udenista fermentou em 1964.
Desembocou em 21 anos de ditadura militar. No retorno à democracia, partidos adeptos da higienização nas práticas públicas sempre
fracassaram.
O PT insistiu durante anos com
sua plataforma de ética na política.
Ao descolar-se do tema, chegou ao
Palácio do Planalto, em 2002. Levou tão a sério a guinada que a administração lulista mais parece um
catálogo de desvios morais.
Ainda assim, soa farisaico quando alguns tucanos adotam um discurso de indignação e receio sobre
os rumos do governo Lula. FHC, em
1998, aparecia em outdoors alternados em São Paulo abraçado a Mario Covas (PSDB) e a Paulo Maluf
(PP). À época, não se falava em
aliança com Judas. Em tucanês social-democrata, citava-se Max Weber. Era a necessidade de a ética da
responsabilidade preponderar sobre a ética da convicção.
Tudo considerado, defender a
moralidade rende poucos votos.
Em 2010, será igual. Até porque a
maioria dos eleitores, como mostra
a história recente do PT, não está
nem aí para essa discussão.
frodriguesbsb@uol.com.br
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