São Paulo, sábado, 07 de novembro de 2009

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FERNANDO RODRIGUES

A ética e o voto

BRASÍLIA - Há um efeito político-eleitoral principal no julgamento do escândalo do mensalão tucano-mineiro. Trata-se do acelerado processo de assemelhação entre os partidos brasileiros.
Já houve o mensalão de Lula, do PT e adjacências. Agora, chegou a vez de o PSDB tomar um calor da Justiça. No Legislativo, mais de 300 congressistas envolveram-se em estripulias e demonstraram falta de compostura neste ano. No Rio Grande do Sul, a governadora tucana, Yeda Crusius, enredou-se num rumoroso episódio cujo desfecho quase redundou em seu impeachment. Vai prevalecendo, portanto, um dos mais nefandos e equivocados axiomas da política: eles são todos iguais.
O discurso da ética nunca deu muito certo no Brasil. O falso moralismo udenista fermentou em 1964. Desembocou em 21 anos de ditadura militar. No retorno à democracia, partidos adeptos da higienização nas práticas públicas sempre fracassaram.
O PT insistiu durante anos com sua plataforma de ética na política.
Ao descolar-se do tema, chegou ao Palácio do Planalto, em 2002. Levou tão a sério a guinada que a administração lulista mais parece um catálogo de desvios morais.
Ainda assim, soa farisaico quando alguns tucanos adotam um discurso de indignação e receio sobre os rumos do governo Lula. FHC, em 1998, aparecia em outdoors alternados em São Paulo abraçado a Mario Covas (PSDB) e a Paulo Maluf (PP). À época, não se falava em aliança com Judas. Em tucanês social-democrata, citava-se Max Weber. Era a necessidade de a ética da responsabilidade preponderar sobre a ética da convicção.
Tudo considerado, defender a moralidade rende poucos votos.
Em 2010, será igual. Até porque a maioria dos eleitores, como mostra a história recente do PT, não está nem aí para essa discussão.

frodriguesbsb@uol.com.br


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