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RUY CASTRO
Apalpando autores
RIO DE JANEIRO - Mal chegado
de Ouro Preto, lá vou eu para Maceió e, em breve, João Pessoa. Há
quatro semanas, era Curitiba; há
três, Caxias do Sul; em agosto, Santos; em junho, Brasília; em abril,
Salvador; há um ano, Porto Alegre.
Sem contar Passo Fundo, Ribeirão
Preto, Vitória, Natal, Belém do Pará
e outras cujos convites não pude
atender pela ridícula incapacidade
de estar em dois lugares ao mesmo
tempo.
E a Flip, em Paraty, além da Bienal do Rio, que bateu de novo o recorde de público. Tudo isso são
eventos sobre livros -feiras, fóruns, bienais-, reunindo escritores
em palestras, debates e mesas-redondas, permitindo que o público
se aproxime para ouvi-los, apalpá-los e certificar-se de que, com exceções, não são de Júpiter.
É bonito constatar que tantas cidades estão descobrindo a atividade editorial. Até há pouco, nenhum
festival desse tipo poderia dispensar a presença de um nome da música popular como isca para as massas, enquanto o prato principal -os
escritores- lhes seriam servidos
sub-repticiamente. Mas, nos últimos eventos de que participei, éramos nós, homens e mulheres das
letras, os encarregados de segurar
a peteca.
O objetivo desses encontros não é
a venda imediata de livros, e sim
dissipar a aura que afasta os livros
dos leitores, dessacralizando-os fisicamente, mostrando que eles podem ser objetos de prazer e conhecimento. Um bom livro custa menos que uma refeição medíocre
num restaurante cheio de empáfia,
e alimenta muito mais.
É verdade que, na última Flip,
quem via o americano Gay Talese
engessado em seus imaculados ternos brancos de US$ 30 mil e sovando seus sapatos de cromo bicolor
nas pedras brutas de Paraty devia
achar que alguns escritores são
mesmo de Júpiter.
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