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CESAR MAIA
Formadores
de opinião
LUKACS, EM "Cinco Dias em
Londres" (Zahar), analisando
a designação de Churchill para
primeiro-ministro, em maio de
1940, e a queda de Chamberlain (e
sua política de apaziguamento com
a Alemanha), avalia a dinâmica da
percepção dos ingleses.
A impopularidade de Churchill
vai até a ocupação de Praga, em
março de 1939. Os fatos legitimaram sua radicalidade. Lukacs fala
de um binômio -opinião pública/
sentimento popular-, válido até os
dias de hoje. "Opinião pública" seria
um processo de convergência entre as pessoas a partir da informação sistematizada, difundida pela
imprensa e por líderes de opinião.
"Sentimento popular" seria a reação das pessoas aos fatos, produzindo uma sensação mais ou menos difusa. Essa reação pode ser
uma onda que vai chegando à emoção das pessoas.
Como tomar decisões que requerem apoio de massa num quadro de
transição desses? A decisão, em si,
poderá ser mobilizadora? Churchill vai ao Parlamento e às rádios e
propõe um jogo da verdade: "Sangue, suor e lágrimas". Mas como
acompanhar o processo e saber
com que velocidade vai cristalizando consciência na população?
As pesquisas de opinião, da forma como as conhecemos, eram um
instrumento embrionário (EUA,
Universidade Colúmbia, início dos
anos 30). Mas não eram suficientes, porque captariam, no início,
uma reação ainda superficial.
Lukacs usa os arquivos da Universidade de Sussex (GB) sobre
"mass observation" (MO). Em
1937, dois ingleses (Madge e Harrison) criam um sistema de observações diretas nas ruas. "Em 1938, estenderam suas atividades aos campos da política e da guerra", diz Lukacs. Não são pesquisas de opinião,
mas "relatos de primeira mão por
observadores de senso comum".
"Não há um ponto de vista que se
possa rotular como opinião pública, ela varia muito e não está ainda
formada; a única coisa que resta é a
crença de que a Inglaterra no fim
acabará triunfando", anota um
observador.
Não é simples separar, numa
pesquisa de opinião, "opinião pública" de "sentimento popular". A
TV estimula o "sentimento popular", que, depois, aparece em pesquisas como "opinião pública". O
que muitas vezes não é ainda -ou
nunca. A TV, na lógica da audiência, é muito mais indutora de sentimentos ou sua aceleradora do que
formadora de opinião. Os líderes
de opinião, intelectuais e políticos,
ainda são formadores de opinião,
mas não como antes.
O processo, hoje, se dá horizontalmente, por fluxos de "opinamento", onde os líderes de opinião
estão no meio da massa, e não "por
cima" dela. Mas não são menos importantes. Os fluxos em que intervêm podem ser filtros formadores
de opinião, o que exige suor. Não
falam mais desde um "altar".
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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