São Paulo, sábado, 07 de dezembro de 2002

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IMPEACHMENT PARAGUAIO

O processo de impeachment aberto contra o presidente do Paraguai, Luis González Macchi, tem, como quase todo processo de afastamento, um forte componente econômico. No presente caso do Paraguai, ele parece até preponderar sobres as razões políticas.
De fato, as dúvidas sobre a legitimidade de Macchi não são novas. Elas remontam a 1999, ano em que o então presidente do Senado assumiu a primeira magistratura do Paraguai depois que o presidente Raúl Cubas fugiu do país, acusado de ter mandado assassinar seu vice, Luis María Argaña. Também não são novas as acusações de corrupção que pesam contra Macchi. Elas incluem o desvio de US$ 16 milhões e a compra de um automóvel BMW roubado no Brasil.
É claro que, sem esses elementos, o processo contra Macchi nem seria possível. Mas, se a situação econômica do Paraguai estivesse um pouco melhor, o presidente provavelmente contaria com algum apoio dentro de seu próprio partido, o Colorado. Na votação da Câmara que determinou a abertura do impeachment, o placar foi de 50 a favor do processo e 0 contra. Houve ainda 11 abstenções, e 19 deputados não compareceram.
E a economia paraguaia está em frangalhos. O PIB deve encolher 4% em 2002, e as perspectivas para 2003 são ainda piores. De janeiro para cá, o guarani, a moeda local, perdeu 30% de seu valor diante do dólar. As principais causas da crise são as dificuldades por que passam Argentina e Brasil, dada a grande dependência que a economia paraguaia mantém em relação a estes dois países.
De todo modo, não deixa de ser uma boa notícia a de que, desta vez, os paraguaios estão tentando tirar um presidente de seu cargo pela via institucional do impeachment e não por meio de golpe de Estado ou assassinato, que são as formas mais habituais na América Latina. Seria por certo precipitado afirmar que o Paraguai se tornou uma democracia de fato, mas não resta dúvida de que esse é o caminho.


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