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PFL EM VÔO SOLO
O que parecia impossível aconteceu. O Partido da Frente Liberal, que se mantinha no poder desde pelo menos 1985, quando ajudou
a eleger Tancredo Neves à Presidência, rompeu a aliança com Fernando
Henrique Cardoso. Mas a saída por
ora não significará a entrega de todos
os postos de segundo e terceiro escalões ocupados por pefelistas. A candidata do partido à sucessão de FHC,
Roseana Sarney, exigiu e obteve de
seus correligionários um voto de
confiança. A disputa pelo Planalto
ganha, assim, nova configuração.
Nenhuma informação apurada até
agora atesta que tenha havido interferência indevida do Poder Executivo
na busca e apreensão executada pela
Polícia Federal na empresa Lunus,
fato gerador da crise política que culminou no rompimento do PFL. Permanecem, no entanto, dúvidas sobre
a fundamentação jurídica do mandado e sobre o vazamento de informações de um processo que corre sob
regime sigiloso.
A estratégia do "staff" da governadora do Maranhão foi a de tratar o caso como político desde o início. Desse ponto de vista, Roseana Sarney
venceu uma importante batalha em
seu partido ao provocar o maior
acontecimento político dos últimos
tempos. Se a candidata fica por ora
com o bônus de ter reassegurado a
confiança do PFL, é possível antever
obstáculos de monta ao seu objetivo
de vencer as eleições.
A pefelista do Maranhão continua
sendo um fenômeno ancorado nas
pesquisas eleitorais. Da manutenção
de seu destacado desempenho nas
sondagens depende a sobrevivência
política de seu projeto. O ex-presidente José Sarney, que é filiado ao
PMDB, afirma que os tucanos "destruíram todas as pontes" para uma
aliança com o PFL. Mas é altamente
provável que, na hipótese de uma
queda substancial de Roseana nas
pesquisas, essas pontes comecem a
ser rapidamente reconstruídas.
Raciocínio análogo pode ser feito
sobre as suspeitas que surgiram contra a governadora e contra seu marido e secretário de governo, Jorge Murad. Roseana, como pleiteante ao
cargo máximo da República, terá de
dar satisfações à opinião pública sobre o assunto a fim de tentar dissipar
rumores que persistem. Caso não sejam convincentes ou caso surjam informações mais comprometedoras,
a sua força político-eleitoral tenderá
a ser abalada inclusive no PFL.
Outro elemento que deve minar
mais as pretensões de Roseana é a
atuação da máquina do Executivo federal. O senador José Serra já levava
vantagem nesse quesito por ser o
candidato do partido de FHC e por
ter atuado em cinco dos últimos sete
anos como titular de dois importantes ministérios. Com a saída do PFL,
é bastante provável que essa tendência se intensifique. Num país como o
Brasil, o poder do Executivo de influir no processo eleitoral -ainda
que atue estritamente na legalidade- não deve ser menosprezado.
A cúpula do PFL está ciente das dificuldades geradas por sua escolha de
romper com FHC. Porém a sua estratégia está longe de ser suicida. Caso
Roseana seja um fenômeno de vida
curta, o partido poderá perder a condição de sócio privilegiado da candidatura situacionista. Mas esse prejuízo dificilmente será grande a ponto
de inviabilizar um acordo, mesmo
que em bases mais modestas, dos
pefelistas com a chapa que tiver mais
condições de antepor-se à esquerda.
O PFL é um partido nacionalmente
forte. Sua bancada federal é indispensável a qualquer projeto de centro-direita neste país.
Diante do que o PFL pode conquistar pela primeira vez -a Presidência
da República-, os prejuízos de uma
eventual frustração da sua nova estratégia parecem menores e perfeitamente administráveis.
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