São Paulo, sexta-feira, 08 de março de 2002

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PFL EM VÔO SOLO

O que parecia impossível aconteceu. O Partido da Frente Liberal, que se mantinha no poder desde pelo menos 1985, quando ajudou a eleger Tancredo Neves à Presidência, rompeu a aliança com Fernando Henrique Cardoso. Mas a saída por ora não significará a entrega de todos os postos de segundo e terceiro escalões ocupados por pefelistas. A candidata do partido à sucessão de FHC, Roseana Sarney, exigiu e obteve de seus correligionários um voto de confiança. A disputa pelo Planalto ganha, assim, nova configuração.
Nenhuma informação apurada até agora atesta que tenha havido interferência indevida do Poder Executivo na busca e apreensão executada pela Polícia Federal na empresa Lunus, fato gerador da crise política que culminou no rompimento do PFL. Permanecem, no entanto, dúvidas sobre a fundamentação jurídica do mandado e sobre o vazamento de informações de um processo que corre sob regime sigiloso.
A estratégia do "staff" da governadora do Maranhão foi a de tratar o caso como político desde o início. Desse ponto de vista, Roseana Sarney venceu uma importante batalha em seu partido ao provocar o maior acontecimento político dos últimos tempos. Se a candidata fica por ora com o bônus de ter reassegurado a confiança do PFL, é possível antever obstáculos de monta ao seu objetivo de vencer as eleições.
A pefelista do Maranhão continua sendo um fenômeno ancorado nas pesquisas eleitorais. Da manutenção de seu destacado desempenho nas sondagens depende a sobrevivência política de seu projeto. O ex-presidente José Sarney, que é filiado ao PMDB, afirma que os tucanos "destruíram todas as pontes" para uma aliança com o PFL. Mas é altamente provável que, na hipótese de uma queda substancial de Roseana nas pesquisas, essas pontes comecem a ser rapidamente reconstruídas.
Raciocínio análogo pode ser feito sobre as suspeitas que surgiram contra a governadora e contra seu marido e secretário de governo, Jorge Murad. Roseana, como pleiteante ao cargo máximo da República, terá de dar satisfações à opinião pública sobre o assunto a fim de tentar dissipar rumores que persistem. Caso não sejam convincentes ou caso surjam informações mais comprometedoras, a sua força político-eleitoral tenderá a ser abalada inclusive no PFL.
Outro elemento que deve minar mais as pretensões de Roseana é a atuação da máquina do Executivo federal. O senador José Serra já levava vantagem nesse quesito por ser o candidato do partido de FHC e por ter atuado em cinco dos últimos sete anos como titular de dois importantes ministérios. Com a saída do PFL, é bastante provável que essa tendência se intensifique. Num país como o Brasil, o poder do Executivo de influir no processo eleitoral -ainda que atue estritamente na legalidade- não deve ser menosprezado.
A cúpula do PFL está ciente das dificuldades geradas por sua escolha de romper com FHC. Porém a sua estratégia está longe de ser suicida. Caso Roseana seja um fenômeno de vida curta, o partido poderá perder a condição de sócio privilegiado da candidatura situacionista. Mas esse prejuízo dificilmente será grande a ponto de inviabilizar um acordo, mesmo que em bases mais modestas, dos pefelistas com a chapa que tiver mais condições de antepor-se à esquerda. O PFL é um partido nacionalmente forte. Sua bancada federal é indispensável a qualquer projeto de centro-direita neste país.
Diante do que o PFL pode conquistar pela primeira vez -a Presidência da República-, os prejuízos de uma eventual frustração da sua nova estratégia parecem menores e perfeitamente administráveis.


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