São Paulo, sexta-feira, 08 de março de 2002

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MUDANÇA DE ROTA

Não surpreendeu o fato de já terem surgido reações internacionais contra as barreiras às importações de aço anunciadas pelos EUA na terça-feira. A reação mais relevante foi a da União Européia, que prometeu congelar suas importações do produto nos níveis de 2001, visando a estancar o previsível desvio ao mercado europeu de produção antes endereçada aos EUA. Dessa maneira o mercado internacional de aço, que já vinha atravessando uma crise séria desde o final da década de 1990, passa a viver, claramente, uma guerra comercial. Cabe ao Brasil reagir não apenas no âmbito das negociações comerciais e da Organização Mundial de Comércio, mas também no campo específico das políticas para a indústria de aço no Brasil.
A siderurgia brasileira tem sido há anos fonte de esperanças e de frustrações. A produção nacional já demonstrou ter sólida competitividade em vários ramos, mas ainda não nos ramos mais nobres, de maior valor adicionado e com demanda internacional mais dinâmica. As exportações do setor já trouxeram grande contribuição para as contas externas do país, mas, nas ocasiões em que as vendas internas cresceram com força (como no Plano Cruzado e no início do Real), observou-se uma perda de impulso das exportações de aço. Isso revela que o setor vem operando muito perto do limite de sua capacidade de produção.
No momento, várias empresas do setor siderúrgico brasileiro estão pondo em curso programas de investimento que ajudariam a aumentar a oferta. Ocorre que originalmente a maioria de tais investimentos estava orientada a atender ao mercado externo, que agora se fecha.
Os esforços da diplomacia brasileira poderão até atenuar esse fechamento, recorrendo, por exemplo, à Organização Mundial do Comércio. No entanto, mesmo que esse recurso diplomático frutifique, as empresas do setor e o governo estarão, muito provavelmente, diante do desafio de reorientar para o mercado interno uma parte do horizonte de expansão da siderurgia brasileira.
Ao lado disso, caberá redobrar os esforços em direção à produção de bens siderúrgicos mais nobres. Nesses ramos, o mercado internacional é mais promissor por várias razões: a demanda cresce com maior velocidade; a incidência de medidas de restrição às importações tende a ser menor; e, de modo geral, não há excesso de oferta internacional.


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