São Paulo, sexta-feira, 08 de março de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Notícias da dengue
MÁRIO MAGALHÃES
Além disso, a idéia de que a prevenção da dengue no verão começa só seis meses antes faz corar entomologistas, epidemiologistas, infectologistas e sanitaristas. É consenso -pelo menos até agora parecia ser- que a prevenção deve ser permanente, 12 meses ao ano. Se o trabalho não é feito sem interrupção durante todo o ano, a resistência do vetor aumenta cada vez mais. As ações de abril são tão importantes quanto as de setembro. O presidente da Funasa diz: O repórter ""concentra toda a "culpa" pela dengue do Rio de Janeiro no governo federal, isentando o governo e as prefeituras (...) de (...) responsabilidade". A verdade: a reportagem conta que a Prefeitura do Rio escalou a empresa de lixo para combater larvas e mosquitos; conta que em Nova Iguaçu (RJ) a prefeitura contratou uma agência antibaratas. Costa escreve que ""supostos "especialistas"" ouvidos pela Folha ""atribuem o recrudescimento da doença à descentralização do combate ao mosquito". Falso: os infectologistas e epidemiologistas, qualificados professores universitários, não se pronunciaram contra a descentralização do combate à dengue, mas apontaram erros nesse processo. Exemplo: a não-uniformização ou o não-monitoramento das ações municipais pelo Ministério da Saúde. Edulcorando o quadro nacional, Costa insiste na tese da concentração dos casos no Rio. Mas é sempre assim: alguns poucos Estados somam muito mais notificações que os outros. No recorde histórico de 1998 (559.237 casos), ignorando MG, PE e PB, os números caem 51,77%. O contorcionismo estatístico, subtraindo Estados como peças de quebra-cabeça, não esconde que a maioria das mortes de janeiro ocorreu fora do Rio. O chefe da Funasa chama de ""truque" o cotejo em dólar de verbas em 1997 e 2002. Há algo estranho -é a própria reportagem que alerta: ""O real não goza mais da relativa paridade com a moeda americana". O verdadeiro truque é outro: a exibição de valores vultosos empregados contra a dengue. Como ter certeza, se há anos o Orçamento contempla boa parte dos desembolsos antidengue num pacote geral de doenças, cabendo a Estados e municípios definir os alvos específicos? Se o ministério não carimba o dinheiro como antidengue, como assegurar que foi esse o seu destino? O presidente da Funasa não reconhece no artigo nenhum erro do ministério. Prefere adjetivar com furor a expressão de jornalismo crítico, independente e apartidário. Costa dispensa adjetivos. Sobre ele, os fatos falam por si. Segue uma sugestão a ele: que tal uma leitura da apostila que ele mesmo, um administrador de empresas, envia aos agentes de saúde para treiná-los nos procedimentos antidengue? São magras 43 páginas. Talvez as coisas melhorem. O Brasil merece. Mário Magalhães, 37, jornalista, é repórter da Secretaria de Redação da Folha. Recebeu, entre outros, os prêmios Esso, Folha, Vladimir Herzog e da Sociedade Interamericana de Imprensa. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Rose Marie Muraro: Uma mulher na Presidência Índice |
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