São Paulo, terça-feira, 08 de março de 2005

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REFORMA FISIOLÓGICA

A reforma ministerial a ser anunciada pelo Planalto não deverá passar de uma operação política de caráter fisiológico com o objetivo de remover em parte as dificuldades que o Executivo tem enfrentado no Congresso Nacional.
Com os resultados das eleições municipais do ano passado, que redefiniram as posições relativas das diversas forças políticas e inauguraram a temporada pré-eleitoral com vistas ao pleito de 2006, já se previa que o governo federal iria encontrar novos obstáculos para contar com uma base de apoio no Legislativo.
As derrotas sofridas pelo PT, em especial em centros como São Paulo e Porto Alegre, enfraqueceram o Planalto e deixaram claro que seria mais alto o preço a ser pago nas negociações para assegurar a maioria. O que não se antecipava é que o quadro se tornaria ainda mais complicado com a frustrada tentativa do PT de eleger seu candidato para a presidência da Câmara dos Deputados.
O triunfo do deputado Severino Cavalcanti reforçou a percepção de que o Executivo nessa nova fase terá de se submeter com renovado pragmatismo às demandas fisiológicas dos partidos e parlamentares. O PP de Severino, que aspirava apenas a um pequeno ministério, agora exige uma pasta mais expressiva -exigência que tornou mais complexa a prometida troca de ministros.
Além disso, o episódio da eleição do novo presidente da Câmara evidenciou que o caráter gelatinoso do sistema partidário vai chegando ao paroxismo, com destaque para o PMDB, esse disforme condomínio de grupos e facções que se bandeiam para este ou aquele lado ao sabor das melhores ofertas e conveniências.
É nesse cenário que se inscreve a reforma ministerial -e é a ele que se moldará. Não que o ministério de Lula devesse permanecer como está, pois a incompetência e a apatia são flagrantes em muitas pastas. É evidente, porém, nessas circunstâncias, que as perspectivas de a reforma representar avanços no planejamento e implementação de políticas públicas são praticamente nulas.


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