São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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O ciclo da ignorância

A PROPOSTA da secretária da Educação do Estado de São Paulo, Maria Lucia Vasconcelos, de reduzir de quatro para dois anos a duração dos ciclos no ensino fundamental pode, ainda que modestamente, contribuir para atenuar o desastre que foi a implantação do sistema de progressão continuada.
A redução dos ciclos, entretanto, não é uma resposta convincente para o péssimo desempenho das escolas estaduais no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do ano passado.
No ensino médio não existem ciclos. Cada estudante é avaliado anualmente e só poderia ser promovido para a série seguinte se obtivesse notas satisfatórias. No entanto, os mesmos vícios que contribuíram para o fracasso da progressão continuada na educação fundamental permanecem no nível seguinte.
O sistema é incapaz de avaliar o aluno, identificar deficiências e corrigi-las. E essa falha ocorre tanto no ciclo de quatro anos do fundamental quanto no ano a ano do médio. Nada permite crer que, em ritmo bienal, o sistema melhore de forma relevante.
O conceito de progressão continuada faz sentido. No mais das vezes a reprovação compromete ainda mais a evolução de um aluno com dificuldades e estimula a evasão. É mais lógico detectar o problema antes e corrigi-lo com um bom programa de reforço.
Por uma séria de falhas na implantação, porém, o resultado dos ciclos em São Paulo foi ruim. Na prática, se converteram em aprovação automática. A evasão e a repetência caíram, mas alunos foram progredindo com graves lacunas. A secretária tenta agora como pode corrigir o desastre. Diminuir a duração do ciclo pode ajudar, ao favorecer avaliações mais freqüentes.
O problema da educação, porém, permanece intocado: professores desmotivados que, muitas vezes, fingem que ensinam a alunos que fingem aprender.


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