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O ciclo da ignorância
A PROPOSTA da secretária da
Educação do Estado de
São Paulo, Maria Lucia
Vasconcelos, de reduzir de quatro para dois anos a duração dos
ciclos no ensino fundamental
pode, ainda que modestamente,
contribuir para atenuar o desastre que foi a implantação do sistema de progressão continuada.
A redução dos ciclos, entretanto, não é uma resposta convincente para o péssimo desempenho das escolas estaduais no
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do ano passado.
No ensino médio não existem
ciclos. Cada estudante é avaliado
anualmente e só poderia ser promovido para a série seguinte se
obtivesse notas satisfatórias. No
entanto, os mesmos vícios que
contribuíram para o fracasso da
progressão continuada na educação fundamental permanecem
no nível seguinte.
O sistema é incapaz de avaliar
o aluno, identificar deficiências e
corrigi-las. E essa falha ocorre
tanto no ciclo de quatro anos do
fundamental quanto no ano a
ano do médio. Nada permite crer
que, em ritmo bienal, o sistema
melhore de forma relevante.
O conceito de progressão continuada faz sentido. No mais das
vezes a reprovação compromete
ainda mais a evolução de um aluno com dificuldades e estimula a
evasão. É mais lógico detectar o
problema antes e corrigi-lo com
um bom programa de reforço.
Por uma séria de falhas na implantação, porém, o resultado
dos ciclos em São Paulo foi ruim.
Na prática, se converteram em
aprovação automática. A evasão
e a repetência caíram, mas alunos foram progredindo com graves lacunas. A secretária tenta
agora como pode corrigir o desastre. Diminuir a duração do ciclo pode ajudar, ao favorecer
avaliações mais freqüentes.
O problema da educação, porém, permanece intocado: professores desmotivados que, muitas vezes, fingem que ensinam a
alunos que fingem aprender.
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