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Anacronismo doméstico
É UMA BOA NOTÍCIA que as
condições de trabalho das
empregadas domésticas tenham melhorado no país. Estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) constatou, em cinco das sete regiões
metropolitanas pesquisadas, que
a maioria das mensalistas é contratada com carteira assinada.
É um avanço em relação a um
passado não muito distante,
quando a informalidade imperava e revestia esse tipo de relação
de trabalho com características
coloniais. O substrato escravista
que sobreviveu nessa atividade,
desempenhada quase sempre
por mulheres pobres, muitas delas descendentes de africanos,
ainda é perceptível -e em geral
não escapa à atenção de estrangeiros em visita ao Brasil.
A conquista de um grau mais
elevado de formalização entre as
mensalistas é um passo digno de
nota, mas insuficiente para conferir ao emprego doméstico o
perfil profissional que já deveria
ter conquistado.
Os dados apurados pelo Dieese
indicam a persistência de baixos
salários e jornadas excessivas.
Em capitais do Nordeste atingem-se patamares inaceitáveis
-como as 58 horas trabalhadas
em média pelas empregadas sem
carteira assinada de Recife.
A chamada PEC (Proposta de
Emenda Constitucional) das Domésticas, com a qual o governo
pretenderia promover direitos e
benefícios, ainda não chegou ao
Legislativo. Tampouco prosperam iniciativas já em tramitação
no Congresso Nacional com propósitos semelhantes.
Embora o tema possa provocar
desconforto em setores da classe
média, a ampliação dos direitos
do trabalhador doméstico, com o
reconhecimento de prerrogativas análogas às de outras categorias, é o caminho a ser trilhado.
Um país que pretende ser moderno e democrático não pode
continuar convivendo com esse
tipo de anacronismo.
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