UOL




São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Presidente itinerante

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende passar pelo menos dez dias por mês viajando pelo país para ter contato com os cidadãos comuns e com as realidades regionais. Pode ser bom, pode ser ruim.
Bom caso Lula queira fazer um contraponto "esquerdista" e "nacionalista". Enquanto FHC, o príncipe, viajava mundo afora, Lula, o migrante, viaja pelos rincões de Norte a Sul. Em vez de Paris, Guaribas.
Ruim caso esse frenesi pelas viagens internas seja apenas para distrair um presidente entediado com as vidraças, os salamaleques e, principalmente, a rotina palaciana. Pedidos, cobranças, decisões. Além, claro, de ministros querendo discutir projetos e programas. Uma chatice.
Nestes cem dias, Lula vive trancado no Alvorada, de noite, e no Planalto, de dia, com Marisa no pé 24 horas. Não é da personalidade dele, chegado a um papo solto, uma cervejinha e uma boa pelada. Se já dá sinais de cansaço, como não estará psicologicamente em quatro (ou oito) anos?
Até agora, Lula não deu entrevistas -nem coletivas nem exclusivas- e só aparece em solenidades fechadas, vez ou outra jogando discursos no lixo e improvisando bem ao seu gosto. Também não assumiu a coordenação de setores do governo, como o social ou o industrial, e exerce o poder "enquadrando" seus ministros.
Além de empurrá-los para um cineminha com as esposas, para jantares com outros ministros e para cantoria na Granja do Torto, Lula parece disposto a recuperar um pouco do prazer da "vida civil". Talvez queira voltar a fazer o que mais gosta: campanha. Viajando dez dias por mês, pode voltar a ser o Lula palanqueiro, das "bravatas", admitindo que governar é duro e que em quatro anos não dá para fazer nada.
O governo tucano enfrenta dificuldades para virar petista. E o candidato pode estar com dificuldades para se transformar em presidente. A questão é saber quem assume a chatice. Ou melhor, o leme.


Texto Anterior: Washington - Clóvis Rossi: As armas e o "problema"
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Herr Meyer
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.