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ELIANE CANTANHÊDE
Presidente itinerante
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva pretende passar pelo
menos dez dias por mês viajando pelo país para ter contato com os cidadãos comuns e com as realidades regionais. Pode ser bom, pode ser ruim.
Bom caso Lula queira fazer um
contraponto "esquerdista" e "nacionalista". Enquanto FHC, o príncipe,
viajava mundo afora, Lula, o migrante, viaja pelos rincões de Norte a
Sul. Em vez de Paris, Guaribas.
Ruim caso esse frenesi pelas viagens
internas seja apenas para distrair um
presidente entediado com as vidraças, os salamaleques e, principalmente, a rotina palaciana. Pedidos, cobranças, decisões. Além, claro, de ministros querendo discutir projetos e
programas. Uma chatice.
Nestes cem dias, Lula vive trancado
no Alvorada, de noite, e no Planalto,
de dia, com Marisa no pé 24 horas.
Não é da personalidade dele, chegado a um papo solto, uma cervejinha e
uma boa pelada. Se já dá sinais de
cansaço, como não estará psicologicamente em quatro (ou oito) anos?
Até agora, Lula não deu entrevistas
-nem coletivas nem exclusivas- e
só aparece em solenidades fechadas,
vez ou outra jogando discursos no lixo e improvisando bem ao seu gosto.
Também não assumiu a coordenação de setores do governo, como o social ou o industrial, e exerce o poder
"enquadrando" seus ministros.
Além de empurrá-los para um cineminha com as esposas, para jantares com outros ministros e para cantoria na Granja do Torto, Lula parece disposto a recuperar um pouco do
prazer da "vida civil". Talvez queira
voltar a fazer o que mais gosta: campanha. Viajando dez dias por mês,
pode voltar a ser o Lula palanqueiro,
das "bravatas", admitindo que governar é duro e que em quatro anos
não dá para fazer nada.
O governo tucano enfrenta dificuldades para virar petista. E o candidato pode estar com dificuldades para se transformar em presidente. A
questão é saber quem assume a chatice. Ou melhor, o leme.
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