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![]() São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Duas estratégias em confronto
CARLOS DE MEIRA MATTOS
O presidente Bush e seus principais assessores, os "falcões", inspiram-se no segmento filiado às idéias de Andrew Jackson, líder republicano (sétima Presidência, de 1829 a 1837) cujo pensamento político, segundo vários autores, é a sugestão "de um Estado forte capaz de defender seu interesse nacional sem compromisso exterior". A chamada doutrina Jackson diferencia-se das doutrinas Jefferson, Hamilton e Wilson, todas inspiradoras de correntes políticas norte-americanas nascidas de uma mesma fonte maior, liberal e democrática. São componentes do atual governo Dick Cheney (vice-presidente), Donald Rumsfeld (ministro da Defesa), a sra. Condoleezza Rice (assessora para Segurança Nacional), Robert Zoellick (assessor para o comércio), Elliot Abrams (assessor para o Oriente Médio), a sra. Paula Dobrinasky (subsecretária de Estado para Assuntos Globais), todos de grupo de intelectuais do Partido Republicano, jacksonianos, que desde 1992 vêm denunciando o perigo para os Estados Unidos da política agressiva de Saddam Hussein e defendendo o direito do ataque preventivo e a necessidade da derrubada de seu governo (segundo matéria publicada no jornal "The Washington Post"). Vamos agora apreciar as idéias do grupo fundamentalista radical, que inspira o terrorismo de Bin Laden e que, segundo acusações de Washington e Londres, orienta também a estratégia de Saddam. O filósofo do atual radicalismo islâmico foi o professor egípcio Snyyid Outb, condenado à morte em 1966 pelo presidente Nasser. Outb foi mestre do médico egípcio Ayman al Zahahir, hoje lugar-tenente e teórico de Bin Laden. São consideradas extraídas do pensamento do dr. Ayman as idéias contidas no pronunciamento de Bin Laden, após os atentados dos aviões suicidas contra as torres do WTC e o Pentágono, quando, abertamente, em nome do radicalismo islâmico, declara guerra mortal aos Estados Unidos e seus aliados. Vejamos um trecho desse pronunciamento: "Estes acontecimentos (11 de setembro de 2001) dividiram o mundo em dois campos: o campo dos fiéis e o campo dos infiéis. A Guerra Santa é um dever de todos os muçulmanos. Não há desculpas, Deus (Alá) mandou lutar pela sua causa e pelo seu nome. O povo norte-americano e seus aliados não terão mais tranquilidade enquanto seu governo não retirar as suas forças das terras sagradas de Maomé e não deixar de apoiar os infiéis de Israel contra os palestinos". A interpretação da concepção estratégica de cúpula que inspira os dois governos em confronto nesta guerra leva-nos a crer que, em que pesem outras razões conflitantes, estão em choque dois radicalismos facciosos, afastados das fontes puras de suas matrizes -a democracia e o islamismo. Talvez, por este motivo, não tenha sido possível uma solução negociada para o conflito. Carlos de Meira Mattos, 89, doutor em ciência política, general reformado do Exército e veterano da Segunda Guerra Mundial, é conselheiro da Escola Superior de Guerra. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Roberto Romano: Silêncio e censura, inimigos da liberdade Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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