São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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RISCOS À VISTA

Relatório do FMI divulgado anteontem alerta para a perspectiva de que a liquidez internacional reflua em futuro próximo. Como se sabe, as baixas taxas de juros nas principais economias, especialmente nos EUA, têm estimulado fluxos financeiros para mercados emergentes. Essa situação favoreceu o ajuste monetário do Brasil em 2003, contribuindo para o recuo da cotação do dólar e a queda do risco-país.
A depender, porém, da evolução da economia norte-americana, o aumento da taxa básica de juros dos EUA, atualmente em 1% ao ano, poderá começar a ocorrer ainda neste 2004. E juros mais altos na maior economia do mundo tornariam menos atraentes as opções de investimento de maior risco, como são os títulos da dívida brasileira.
Embora todos concordem que haverá impactos no caso de uma alta dos juros nos EUA, as avaliações sobre sua intensidade não são coincidentes. Alguns analistas crêem que o conservadorismo da política monetária brasileira possa ser em parte explicado, neste momento, por uma atitude preventiva em relação às incertezas internacionais. O BC tenderia a manter os juros acima do necessário para minimizar os possíveis efeitos de uma turbulência externa.
O elevado superávit comercial (estimado em US$ 24,2 bilhões para este ano) e um estoque não tão elevado de capitais de curto prazo no país seriam fatores que reduziriam as chances de uma grave crise cambial no caso de uma redução moderada dos fluxos de capitais internacionais.
Há, porém, os que temem pelo pior: uma sinalização de alta dos juros nos EUA geraria desconfianças e movimentos especulativos intensos. O resultado desse processo poderia ser mais uma crise externa, com os já conhecidos reflexos perversos sobre o câmbio e a inflação.
Em qualquer hipótese, o fato é que a vulnerabilidade da economia brasileira ainda inspira cuidados. Se houve avanços notáveis no saldo comercial, o mesmo não se pode dizer a respeito da recomposição das reservas em divisas internacionais -algo que o governo iniciou tardiamente e há dois meses interrompeu.


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