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ELIANE CANTANHÊDE
Perdas e ganhos
BRASÍLIA - Depois de meses de
tensão e de crises deflagradas pela
queda do Boeing da Gol, a relação
entre a Aeronáutica e os líderes dos
controladores militares se deteriorou a tal ponto que é impossível a
convivência, mesmo com o pedido
de desculpas e com a desmilitarização -que, se vier, espera-se que seja
lenta, gradual e segura.
Operação-padrão, greve, motim,
ameaças de prisão, caos nos aeroportos, nada disso é compatível
com as regras e a rotina militar. Hoje, nem a Aeronáutica quer os líderes do movimento, nem eles querem a Aeronáutica. Mas devem tentar um fim de caso sem dor.
Como isto é Brasil, o inquérito do
Ministério Público Militar contra
os controladores de vôo tende a
acabar sem prisão nem expulsão do
serviço público, apesar do crime de
motim. Mas a Aeronáutica torce
para que os próprios líderes cumpram a ameaça e voltem para casa.
De preferência, antes da conclusão
de um outro inquérito: o das causas
da queda do Boeing.
Terão, até lá, feito um enorme favor à Aeronáutica: nesse período,
ela também foi incompetente, não
deu as respostas que deveria e foi
desmoralizada por Lula, mas, diante da evidência de que os sargentos
controladores extrapolaram todos
os limites e Lula errou ao ceder,
acabou recuperando o controle e o
presidente tem feito "n" agrados
para os brigadeiros.
Lula restituiu a cadeia de comando, traiu o que prometeu aos controladores, vai convocar o Conselho
de Defesa Nacional para finalmente
renovar a frota de caças, concedeu a
medalha da Defesa para o comandante Saito e anuncia a reforma de
gestão do Ministério da Defesa.
Os lulistas aplaudiram Lula
quando ele enfrentou a cúpula militar em favor dos sargentos e vão
elogiá-lo com igual ímpeto agora,
quando ele ataca os sargentos em
favor da cúpula. Porque, afinal, Lula
está sempre e absolutamente certo.
Ai de quem diga o contrário...
elianec@uol.com.br
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