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CARLOS HEITOR CONY
Crimes e castigos
RIO DE JANEIRO - O garoto estava com fome, não comia há dias,
passou por uma mercearia e viu um
pão atrás da vitrine. Roubou o pão.
Foi preso, ficou 20 anos na cadeia,
saiu da prisão e tornou-se um homem respeitável, chegou a prefeito
de uma cidade do interior da França. Chamava-se Jean Valjean.
Um inspetor de polícia, Javert, o
persegue durante toda a vida. A tese
dele era simples: quem rouba um
pão é um criminoso, fatalmente
roubará outras coisas. O conflito
entre Jean Valjean e Javert é a trama principal de "Os miseráveis",
romance de Victor Hugo, um dos
monumentos literários do século
19, filmado diversas vezes, tanto na
França como nos Estados Unidos.
E, por falar em filme, um marinheiro é assassinado pela polícia no
cais de Odessa porque reclamou da
comida servida a bordo do couraçado Potemkin. Ao filmar a revolta da
tripulação, Eiseinstein mostra o
corpo da vítima com um cartaz em
cima: "Por um prato de sopa".
Cito dois exemplos, um da ficção,
outro da história da Revolução Russa, para refletir sobre a desproporção do crime e do castigo -e estou
citando outro monumento literário
do século 19, o estudante que achava lícito roubar uma velha usurária
porque julgava ter um futuro grandioso e precisava de dinheiro para
chegar lá. Acabou matando duas velhas, foi perseguido pela própria
consciência e por um policial que
suspeitava dele.
Na lei mosaica que passou para o
cristianismo na forma de dez mandamentos, ficaram explícitos o "não
matarás" e o "não furtarás". Os diferentes códigos que regem a sociedade humana -independentemente
da religião de cada uma delas- admitem exceções para o "não matarás", a legítima defesa, por exemplo.
Para o furto não há exceções, mas
reparações, como a de devolver o
furto e aprender a lição.
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