São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2011 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O câncer, a epidemia e a saúde pública PAULO M. HOFF
O que representa uma década quando o assunto é medicina oncológica e seus avanços? Para alguns, pode parecer muito tempo, mas quem luta diariamente contra essa doença, complexa e cheia de mistérios, sabe que esse período não é longo. Falamos em uma década porque, para o câncer, esse tempo é o suficiente para torná-lo adulto. E bem adulto. Estima-se que até meados deste século esta se torne a principal causa de mortes no país, ultrapassando as doenças cardiovasculares. Um dado que assusta, preocupa e merece atenção. Nas últimas décadas, a medicina oncológica conquistou importantes vitórias. Vivenciamos o surgimento de novos medicamentos e tratamentos que aumentaram significativamente a chance de cura e sobrevida de nossos pacientes. A evolução da genética, levando a identificação de genes responsáveis pela ampliação do risco de desenvolver alguns tipos de tumores, potenciais alvos para terapias dirigidas, além do desenvolvimento e disseminação de novos e modernos equipamentos, importantes para o combate ao câncer. Tudo isso trouxe uma enorme evolução, que poderia ter sido verdadeira revolução se a doença não nos acompanhasse e nos desafiasse continuamente nesta maratona. Atualmente, o Brasil conta com diversos hospitais de ponta, que são referência para o tratamento oncológico. Há alguns anos, essa excelência no atendimento aos pacientes com câncer concentrava-se principalmente nos hospitais particulares, mas felizmente um número cada vez maior de unidades voltadas para o atendimento dos pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) também passou a se destacar nessa área. E dar atenção para a construção e o custeio desses centros de excelência é não parar de lutar contra a doença. Em 2008, o governo de São Paulo e a Secretaria de Estado da Saúde investiram e inauguraram o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (Icesp), um bom exemplo da parceria entre tecnologia, qualidade e atendimento voltado para o SUS. Três anos depois, o Icesp hoje é um dos melhores centros de referência de câncer do país, com atendimento mensal a quase 11 mil pacientes e com o maior parque radioterápico da América Latina. Só no último ano, o instituto atendeu, na parte assistencial, mais de 12 mil novos casos de câncer. Um número assustador e que precisa ser levado a sério. É preciso que o Brasil tenha muita iniciativa, vontade política e empenho para enfrentar o câncer, uma doença difícil e que está em franca ascensão. Com o envelhecimento da população, certamente teremos uma "epidemia" de casos de câncer no futuro próximo. O caminho ainda é longo, mas a experiência do Icesp e de outras instituições de renome prova que temos profissionais altamente qualificados e as condições necessárias para incluir o Brasil entre as nações que lideram o mundo no combate ao câncer. PAULO M. HOFF, oncologista, é diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira e professor titular de oncologia da Faculdade de Medicina da USP. Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES José Viegas Filho: O futuro, o Brasil e o mundo Próximo Texto: Painel do Leitor Índice | Comunicar Erros |
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