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RETROCESSO CONSUMADO
O plenário do Senado Federal
decepcionou ao votar pelo arquivamento do pedido de abertura
de processo político contra o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). O desfecho melancólico do episódio é um duro golpe na credibilidade da instituição.
O argumento de que as graves irregularidades de que o político baiano
é acusado não configurariam quebra
de decoro parlamentar porque não
teriam sido cometidas no decurso do
mandato de senador é formalista demais para um processo que, como o
próprio nome diz, é político. Os parlamentares precisariam considerar
se vale ou não à pena manter no Senado pessoa acusada de estar envolvida num vasto esquema de escutas
telefônicas ilegais contra adversários
políticos. Ademais, vale lembrar que
as escutas de mais de cem números
telefônicos ocorreram de março a setembro do ano passado: durante boa
parte desse período, ACM era candidato a uma vaga no Senado.
Tampouco poderiam os senadores
deixar de considerar que ACM é acusado de reincidir num escândalo grave. Foi levado a renunciar, no ano
passado, para não ser cassado por
envolvimento na violação do sigilo
da votação que retirou, em 2000, o
mandato de Luiz Estevão. Escudar-se
numa interpretação rígida, formalista, não apaga esses fatos e apenas
agrava o seu potencial de desgaste
para a imagem do Senado.
Mesmo que se faça uma concessão
à hipótese dos defensores de ACM,
ela deveria ser avaliada no bojo do
processo político contra o senador,
que foi bloqueado por uma decisão
da Mesa do Senado, endossada por
uma votação, no plenário, de caráter
secreto. E a opção pelo escrutínio secreto também foi deliberada em votação. Nada, portanto, obrigava que
os senadores se valessem do anonimato para livrar ACM de processo.
Perdeu o Conselho de Ética, que teve uma de suas deliberações enterrada de maneira lamentável. Mas perdeu, sobretudo, o Senado Federal ao
tomar uma decisão infeliz lançando
mão de métodos pouco transparentes, indesejáveis numa democracia.
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