|
Próximo Texto | Índice
DILEMA DA REELEIÇÃO
A intensificação da disputa
em torno da emenda constitucional que prevê a reeleição das Mesas do Senado e da Câmara vem colocando o governo em uma situação
delicada. De acordo com a proposta,
seria permitido aos presidentes das
das duas Casas o exercício de apenas
dois mandatos consecutivos.
Em si mesma, a tese da reeleição
parece defensável. Não é nenhum
absurdo afirmar que os mesmos
princípios gerais devem regrar o
exercício de cargos na esfera do Poder Executivo e no âmbito do Legislativo. Não seria, assim, nenhum contra-senso defender a reeleição para as
presidências do Senado e da Câmara, uma vez que ela já é admitida para
cargos do Executivo. Teoricamente,
a proposta é bastante razoável.
Existem, no entanto, dois problemas que merecem consideração. Primeiramente, há quem afirme que,
do modo que está redigida, a emenda geraria um indesejável efeito cascata, prolongando suas determinações para as Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais. Pior ainda, há indícios de que o texto abra
brechas para que se amplie o número de reeleições permitidas.
Em segundo lugar, uma vez em vigor, a emenda permitirá a reeleição
dos atuais presidentes do Senado e
da Câmara, José Sarney e João Paulo
Cunha, respectivamente. Diante dessa circunstância, fica difícil evitar a
impressão desagradável de que se está diante de exemplo lamentável de
casuísmo. Impressão essa que se estende ao governo federal, dada a evidente conveniência da reeleição de
Sarney e Cunha para o Planalto.
O governo terá de arcar com os custos de sua escolha. Como se sabe, o
caso desencadeou uma disputa encarniçada no interior do PMDB, um
dos principais partidos da base aliada. Para favorecer Sarney -que se
beneficia com a reeleição- será preciso desagradar a Renan Calheiros,
que pretende candidatar-se à presidência do Senado em 2005.
Sair desse imbróglio tende a custar
caro para o governo.
Próximo Texto: Editoriais: PATRIMÔNIO AMEAÇADO Índice
|