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PATRIMÔNIO AMEAÇADO
Compreende-se a necessidade de economizar preciosos recursos públicos. Há décadas, um Estado ineficiente e perdulário vem
onerando o contribuinte. Mas tudo
tem um limite. Há certas economias
que acabam custando muito caro. É
o caso do roubo à biblioteca do Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Sem segurança digna deste nome
ou verbas até para adquirir câmaras
de vigilância, a biblioteca teve 13
obras raras furtadas e 11 danificadas,
depois que o ladrão lhes arrancou as
gravuras, provavelmente para vendê-las no mercado negro. Os livros que
desapareceram do acervo, datados
dos séculos 17 e 19, versam sobre história natural e são de autoria de pesquisadores estrangeiros ilustres como Hans Staden e Johann Baptist
von Spix. Seu valor é inestimável.
Infelizmente, não se trata de um caso isolado. A mesma biblioteca já sofrera um outro grande roubo, em
1989, quando 17 obras foram levadas. Felizmente, acabaram sendo recuperadas. No ano passado, foi a vez
da mapoteca do Palácio do Itamaraty, também no Rio, que teve subtraídos 2.066 de seus itens entre fotografias, mapas e gravuras históricas.
O pouco cuidado com o patrimônio brasileiro é, lamentavelmente,
generalizado, ocorrendo nos planos
artístico e arqueológico. Estátuas do
maior escultor brasileiro se esfacelam ao sabor das intempéries e da
ação de vândalos em Minas Gerais.
Na bacia do Araripe, na divisa entre
Ceará, Pernambuco e Piauí, fósseis
pré-históricos são coletados pela população e vendidos ilegalmente a
museus estrangeiros por valores irrisórios, às vezes o equivalente a uma
cerveja. Até os tesouros naturais sofrem com o florescimento de um turismo muitas vezes predatório.
Não adianta, como costumam fazer autoridades, esperar que ocorram desastres naturais ou provocados para anunciar a liberação de verbas destinadas a proteger o patrimônio. Aqui, como em tantos outros
campos, é preciso antecipar-se ao sinistro. Garantir a segurança e a conservação de obras e de lugares preciosos não é gasto. É investimento.
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