São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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Revés da oposição

Sem convencer na questão do dossiê, ministra Dilma Rousseff sai, porém, ganhando em depoimento no Senado

ISTO AQUI não é um jogo, disse o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), já no fim do depoimento da ministra Dilma Rousseff na Comissão de Infra-Estrutura do Senado. Não vinha portanto ao caso, continuou o líder oposicionista, saber quem ganhara e quem perdera, no esperado confronto entre a titular da Casa Civil e a "banda de música" de tucanos e demistas.
As considerações de Arthur Virgílio não deixam de ser reveladoras, mais uma vez, do efeito político que acabam tendo as convocações de figuras-chave do Executivo ao palco parlamentar.
A oposição tende a acumular mais derrotas do que vitórias, seja porque não tem como colocar em debate a quantidade de informações de que dispõem os membros do governo, seja porque o despreparo estratégico e a mediocridade vigente na vida legislativa não oferecem maiores entraves à atuação dos convocados.
Na tarde de ontem, tudo começou com uma péssima idéia do senador José Agripino (DEM-RN): julgou pertinente trazer à baila uma entrevista em que a ministra contou ter mentido muito às forças da repressão.
"Eu fui barbaramente torturada, senador", respondeu Dilma Rousseff. "Qualquer pessoa que ousar falar a verdade para os torturadores, entrega os seus iguais. Eu me orgulho muito de ter mentido na ditadura, senador."
A força emocional e política de uma resposta desse tipo só poderia marcar negativamente as acirradas disposições de ânimo com que a oposição iniciava seus questionamentos.
Diferentemente do que aconteceu na primeira entrevista coletiva sobre o caso do dossiê, a ministra parecia mais segura de sua argumentação e, diante da quantidade de perguntas específicas que lhe foram dirigidas sobre o PAC, estava naturalmente pisando em seu próprio terreno.
Resta, como sempre, a infindável questão do vazamento das informações sobre gastos presidenciais. A ministra continua inconvincente em sua argumentação. Insiste, como era de prever, na tese de que foi produzido apenas um "banco de dados".
Outra coisa, entretanto, vazou da Casa Civil: uma lista contendo dados pretensamente comprometedores a respeito dos gastos pessoais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
De quem partiu a iniciativa? Num momento em que se acumulavam denúncias de abusos com cartões corporativos por parte do governo Lula, é mais do que plausível imaginar que alguém, no Executivo, estivesse interessado em contra-atacar levantando tudo o que pudesse trazer descrédito para a administração anterior.
A tardia decisão de chamar a Polícia Federal para investigar o caso, anteriormente descartada pela ministra, agora funciona como instrumento para a autodefesa do governo. Tudo haverá de ser esclarecido: esta a linha básica da argumentação oficial, quando não se perde nos embaraços da semântica. É o que falta ser feito. Enquanto isso, a ministra ganha pontos, e a oposição parece até ajudá-la sem querer.


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