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Revés da oposição
Sem convencer na questão do dossiê, ministra Dilma Rousseff sai, porém, ganhando em depoimento no Senado
ISTO AQUI não é um jogo, disse
o senador Arthur Virgílio
(PSDB-AM), já no fim do depoimento da ministra Dilma
Rousseff na Comissão de Infra-Estrutura do Senado. Não vinha
portanto ao caso, continuou o líder oposicionista, saber quem
ganhara e quem perdera, no esperado confronto entre a titular
da Casa Civil e a "banda de música" de tucanos e demistas.
As considerações de Arthur
Virgílio não deixam de ser reveladoras, mais uma vez, do efeito
político que acabam tendo as
convocações de figuras-chave do
Executivo ao palco parlamentar.
A oposição tende a acumular
mais derrotas do que vitórias, seja porque não tem como colocar
em debate a quantidade de informações de que dispõem os membros do governo, seja porque o
despreparo estratégico e a mediocridade vigente na vida legislativa não oferecem maiores entraves à atuação dos convocados.
Na tarde de ontem, tudo começou com uma péssima idéia do
senador José Agripino (DEM-RN): julgou pertinente trazer à
baila uma entrevista em que a
ministra contou ter mentido
muito às forças da repressão.
"Eu fui barbaramente torturada, senador", respondeu Dilma
Rousseff. "Qualquer pessoa que
ousar falar a verdade para os torturadores, entrega os seus iguais.
Eu me orgulho muito de ter
mentido na ditadura, senador."
A força emocional e política de
uma resposta desse tipo só poderia marcar negativamente as
acirradas disposições de ânimo
com que a oposição iniciava seus
questionamentos.
Diferentemente do que aconteceu na primeira entrevista coletiva sobre o caso do dossiê, a
ministra parecia mais segura de
sua argumentação e, diante da
quantidade de perguntas específicas que lhe foram dirigidas sobre o PAC, estava naturalmente
pisando em seu próprio terreno.
Resta, como sempre, a infindável questão do vazamento das informações sobre gastos presidenciais. A ministra continua inconvincente em sua argumentação. Insiste, como era de prever,
na tese de que foi produzido apenas um "banco de dados".
Outra coisa, entretanto, vazou
da Casa Civil: uma lista contendo
dados pretensamente comprometedores a respeito dos gastos
pessoais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
De quem partiu a iniciativa?
Num momento em que se acumulavam denúncias de abusos
com cartões corporativos por
parte do governo Lula, é mais do
que plausível imaginar que alguém, no Executivo, estivesse interessado em contra-atacar levantando tudo o que pudesse
trazer descrédito para a administração anterior.
A tardia decisão de chamar a
Polícia Federal para investigar o
caso, anteriormente descartada
pela ministra, agora funciona como instrumento para a autodefesa do governo. Tudo haverá de
ser esclarecido: esta a linha básica da argumentação oficial,
quando não se perde nos embaraços da semântica. É o que falta
ser feito. Enquanto isso, a ministra ganha pontos, e a oposição
parece até ajudá-la sem querer.
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