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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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QUE METAS?

Não seria exagero dizer que o ano, do ponto de vista do crescimento da economia, já pode ser dado como perdido. Tudo indica que o comportamento do PIB em 2003 não vá ser muito diferente da previsão feita pelo Ipea, órgão ligado ao Ministério do Planejamento, que projeta uma expansão de 1,6%. Pelo terceiro ano consecutivo o país estará crescendo a taxas que praticamente coincidem com as do incremento populacional.
O que se constata, portanto, é a persistência de um quadro que se agravou com a crise cambial de 1999, quando, às voltas com a vulnerabilidade externa e um surto inflacionário, a equipe econômica tratou de puxar o freio da economia com contínuas elevações da taxa de juros e dos superávits primários. A disparada do dólar no recente período eleitoral novamente irradiou-se nos preços, ao mesmo tempo em que cresciam as desconfianças do mercado internacional sobre a capacidade de o país saldar seus compromissos.
Para enfrentar a situação, o governo recém-empossado optou pelo que parecia sensato, ou seja, fazer "mais do mesmo". Em busca de um "choque de credibilidade", as novas autoridades econômicas mostraram-se ainda mais conservadoras.
O que a muitos pareceu uma política de emergência, anterior a uma mudança de rumos, está se revelando uma opção de longo prazo. Nada indica que a nova gestão irá reformular os fundamentos da política macroeconômica que vinha sendo praticada pela administração anterior. Tudo deverá se resumir, no máximo, a uma questão de grau ou de maior ou menor propensão do governo a apostar em políticas microeconômicas e ações sociais compensatórias.
A questão de grau, atualmente debatida em círculos governamentais, está na flexibilização ou não da meta de inflação para 2004 e 2005. Sabe-se que dificilmente o Banco Central conseguirá atingir a meta deste ano (8,5%), o que sugere sérias dificuldades para cumprir a que foi fixada para o ano que vem (5,5%).
Mesmo que não alcance a meta para 2003, o BC deverá demonstrar ao mercado, no final do ano, que se empenhou o máximo possível para fazê-lo. Terá, ao que tudo indica, de manter os juros em patamares elevados, gerando um ambiente recessivo para "matar e esquartejar" a inflação. Caso queira, no entanto, em 2004, obter mais espaço para reduzir a taxa básica de juros, evitando aprofundar ainda mais o desemprego e a asfixia da atividade econômica, com suas sérias sequelas sociais, será conveniente aumentar a meta de inflação. Corre o risco, porém, de que tal mudança seja interpretada como um sinal de descompromisso com os objetivos de austeridade e de rigor no controle dos aumentos de preços.
A revisão de metas já foi feita na gestão anterior, quando o então presidente do BC, Armínio Fraga, considerou que o país não deveria pagar custos elevadíssimos para perseguir um índice de inflação que se revelava inatingível nos prazos fixados.
Por decreto em vigor, o Conselho Monetário deve indicar a meta para 2005 até o dia 30 deste mês, podendo rever o objetivo para 2004. A decisão dirá alguma coisa a mais sobre o tipo de política que o novo governo pretende seguir nos próximos anos.



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