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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Câmara dos Deputados apura o maior assalto do país

Enquanto uma CPI no Rio de Janeiro faz progressos para identificar a propriedade das contas suíças que abrigam mais de US$ 33 milhões enviados do Brasil, o Senado Federal sepultou uma CPI que investigaria as denúncias de remessa ilícita de US$ 30 bilhões para bancos do exterior. Sim, US$ 30 bilhões!
Em boa hora, a Câmara dos Deputados assumiu a empreita e promete apurar o caso em tempo hábil. Esse dinheirão teria sido irregularmente remetido para o exterior através do Banco do Estado do Paraná -Banestado- (e de outros), no período de 1996 a 1999. É um montante colossal, equivalente ao empréstimo que o FMI fez ao Brasil e que terá de ser pago com o suor do povo.
A apuração dessa denúncia é fundamental para a moral do país. Se for falsa, que se punam os ímprobos delatores. Se for verdadeira, que se condenem os autores e se busque o dinheiro. O que as autoridades não podem fazer é jogar esse descalabro para debaixo do tapete.
O assunto veio a público por meio da imprensa, que apresentou uma profusão de detalhes. O dinheiro era remetido para o exterior por meio de contas CC-5, iniciando a trajetória por Nova York e terminando em vários outros destinos, em nome de políticos, de empresários e de figurões da República. Teria sido, assim, o maior assalto da história do Brasil. A "super-lavanderia" fora montada nas barbas do Banco Central, o que causa uma profunda indignação a quem trabalha e vive corretamente.
O aborto da CPI no Senado Federal baseou-se em desculpas esfarrapadas. Uma delas é que a apuração atrapalharia a tramitação das reformas. Outra é que o Poder Executivo vai retomar as investigações do fato.
Congratulações à Câmara dos Deputados por assumir essa responsabilidade sem abdicar das demais. A discussão das reformas está a todo vapor, e a sua constitucionalidade já foi aprovada. É uma demonstração de que, quando os parlamentares querem, os projetos caminham com rapidez.
No caso dos US$ 30 bilhões, tudo indica que a CPI terá seu trabalho facilitado. O governo dispõe de farta documentação e inúmeros depoimentos de profissionais importantes da Polícia Federal, da Receita Federal e do Banco Central. Isso será muito útil aos integrantes da Comissão.
Enfim, não havia por que deixar os brasileiros às escuras diante de um assalto tão assombroso. Oxalá tudo seja mentira e invencionice dos denunciantes, pois, do contrário, o desânimo e a desilusão tomarão conta da nação.
Seja o que for, o esclarecimento é urgente. Temos o direito de saber a verdade, e as autoridades têm o dever de apurá-la, fazendo retornar o dinheiro aos cofres públicos. É para isso que pagamos impostos. Senhores deputados, parabéns e mãos à obra!


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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