São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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EDITORIAIS

DECLÍNIO DA BOVESPA

Estabilização , privatização e investimentos estrangeiros propiciaram forte expansão do mercado acionário brasileiro nos anos 90. O volume diário negociado chegou a mais de R$ 1 bilhão em 1999, mas depois caiu. Atualmente, tem fechado abaixo de R$ 400 milhões, e a Bovespa opera com prejuízo.
A crise dos países emergentes reduziu o volume de capital externo disponível. Quase a metade das ações brasileiras, porém, ainda está em mãos de estrangeiros. A saída líquida de R$ 392,7 milhões desses investimentos no primeiro semestre de 2002 contribuiu para a queda de 18% do Índice da Bovespa, um dos piores desempenhos em 30 anos.
A concorrência com títulos públicos altamente rentáveis, a baixa transparência e a insuficiente proteção a minoritários contribuíram para inviabilizar a popularização do investimento em ações no Brasil. A privatização teve objetivo precípuo de alimentar o caixa da União, sem ajudar a desenvolver o mercado acionário. A venda de ações da Petrobras e da Vale do Rio Doce a cotistas do FGTS não passou de saudável exceção.
Tudo isso resultou em forte contração da Bovespa. O número de companhias listadas caiu de 544 para 423 entre 1995 e 2001. O volume de emissões caiu de R$ 4,1 bilhões em 1998 para R$ 1,3 bilhão em 2001.
Não foram criadas fontes internas que sustentassem o mercado. Pelo lado da demanda, além de a privatização não ter "pulverizado" as ações, a taxa de juros alta afastou investidores. Pelo lado da oferta, o baixo crescimento da economia inibiu o apetite das empresas por recursos para financiar investimentos.
A expansão do mercado acionário brasileiro requer a solução dos entraves à retomada do crescimento: a excessiva dependência de capital externo e a elevada relação dívida pública/ PIB. Um superávit comercial crescente reduziria a necessidade de financiamento externo e permitiria a aceleração do crescimento, o que demandaria novos capitais para investimento e estimularia a entrada de empresas na Bolsa. A redução da dívida pública abriria espaço para a queda nos juros, favorecendo a demanda por ações. Além disso, para dar confiança aos investidores caberia aperfeiçoar as regras de gestão das corporações e de proteção a minoritários.


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