|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Continuar na ponta
O BRASIL vive um momento
feliz com o retumbante sucesso (não sei por que
"bombando" soa muito melhor) na
produção de combustíveis renováveis, o etanol e o biodiesel. Há quase um século, alguns românticos e
teimosos brasileiros vêm aplicando suas inteligências e seus cabedais na esperança de que o álcool
acabaria um dia sendo o combustível líqüido renovável e menos poluente que substituiria o petróleo.
Essa saga precisa um dia ser contada. Ela mostrará como o espírito
"animal" e o nacionalismo daqueles empresários foram sistematicamente frustrados pelas hesitantes
políticas governamentais.
Hoje a situação é outra. Assistimos, finalmente, à realização de
sonho da auto-suficiência na produção de petróleo, uma mudança
estrutural definitiva na nossa dependência externa. Agora, dois novos fatores se impõem: 1º) a enorme e justificada preocupação mundial com as mudanças climáticas
produzidas pela emissão de CO2
pela atividade humana e 2º) a elevação dos preços relativos do petróleo, que, desta vez, parece que
vai ficar conosco.
Um bom combustível renovável
para o setor de transportes tem de
possuir boa combustão, não pode
absorver água e deve ser passível
de eficiente distribuição e estocagem. É razoavelmente seguro que
a biomassa será a origem desse
combustível no futuro, mas há,
ainda, muita dúvida sobre qual será a matéria-prima mais adequada,
o método de produção mais eficiente e se a conversão será produzida por processo biológico -como
o do etanol- ou termoquímico
-como o do biodiesel.
Certamente o Brasil está no "estado da arte" na produção do etanol, mas este tem menor densidade energética, maior volatilidade e
não é hidrófobo como deve ser o
substituto renovável do petróleo.
De qualquer forma, uma coisa é
certa: temos enormes e boas perspectivas pela frente, mas estamos
metidos numa corrida tecnológica
que vai exigir recursos e empenho,
não só do setor privado mas principalmente do governo. É preciso
multiplicar o esforço no financiamento da pesquisa privada e no suporte à Embrapa e ao Instituto Militar de Engenharia (IME), que, há
muitos anos, se dedicam a desenvolver a produção de combustível
através da biomassa.
Há uma revolução na pesquisa
em todos os países. Agora mesmo,
o US Department of Energy doou a
três centros de pesquisa US$ 500
milhões para um programa de cinco anos (US$ 100 milhões por ano)
para resolver o "famoso e difícil
problema de extrair etanol da biomassa". Temos que nos cuidar se
quisermos continuar na ponta, onde estamos quase por acidente.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: O país a pé Próximo Texto: Frases
Índice
|