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Limpeza na cidade
Prefeitura de São Paulo cogita dividir todo o sistema de varrição e outros serviços entre dois grupos, o que concentra risco de corrupção
O sistema de limpeza urbana de
São Paulo é deficiente, como atesta a sujeira e o entulho que se acumulam em algumas ruas. Assim, é
bom que a prefeitura proponha
uma reformulação do serviço.
O novo modelo de concorrência
proposto por Gilberto Kassab
(PSD) acabará com o atual sistema, pulverizado entre várias empresas e regiões, e trará enorme
concentração, cujos efeitos ainda
precisam ser esclarecidos.
A cidade, antes dividida em cinco regiões, será partilhada em
duas grandes áreas. Serviços como varrição de ruas, limpeza de
bocas de lobo e recolhimento de
entulho, atualmente feitos por
companhias diferentes, serão executados em cada bloco por um
único consórcio -que poderá ser
composto por até três empresas.
O argumento da prefeitura, de
que será mais fácil fiscalizar o
cumprimento do contrato e determinar eventuais punições, tem
sua lógica. Pode dificultar o jogo
de empurrar responsabilidades de
uma empresa para outra: se houver falhas em determinada área,
não será mais tão complicado
apurar a cargo de quem se encontrava determinado local.
Por outro lado, o novo modelo
torna a prefeitura ainda mais dependente de poucas grandes empresas do setor, uma vez que acaba por excluir as pequenas da disputa. Pela Lei de Licitações, as
concorrentes devem ter capital
condizente com o tamanho da empreitada; o valor dos novos contratos vai girar em torno de R$ 660
milhões ao ano, por três anos.
Os consórcios Loga (que reúne
as empresas Vega Engenharia e
Camargo Corrêa) e EcoUrbis
(Queiroz Galvão, Heleno & Fonseca e Marquise) já controlam a coleta de lixo domiciliar e hospitalar
no município, um contrato de 20
anos e custo total de R$ 10 bilhões.
Não é disparatado imaginar que
os dois pesos-pesados são fortes
candidatos a conquistar também
os novos serviços, o que poderia
criar um duopólio no setor de lixo.
Cabe recordar que o antecessor
de Kassab na prefeitura, José Serra (PSDB), apontou suspeitas de
superfaturamento no contrato.
Uma revisão dos cálculos não conseguiu comprovar irregularidades, mas levou a uma redução de
17% no valor que se acha em execução na gestão do atual prefeito.
O setor de lixo já foi alvo de muitas suspeitas de corrupção no passado recente da Prefeitura de São
Paulo. Mesmo sem indícios à vista
de irregularidades, os valores envolvidos exigem que se acompanhe com cuidado redobrado essa
licitação bilionária do município.
Espera-se que o novo modelo de
limpeza consiga eliminar a sujeira
das ruas sem abrir mão da lisura e
da transparência que devem caracterizar o trato da coisa pública.
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