São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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Miséria na prosperidade

A marcante concentração de renda é um traço perverso da sociedade brasileira que apenas recentemente, e ainda de maneira limitada, vem sendo mitigado. Há, porém, localidades ao redor do país em que a riqueza cresce muito, mas continua a fluir para as mãos de uma pequena minoria.
O nível de renda domiciliar que constitui o limiar da miséria é, segundo o critério adotado pelo governo federal, de R$ 70 por pessoa, a cada mês. No Brasil como um todo, 9,6% das pessoas têm renda inferior a esse valor.
Reportagem desta Folha apurou que, dentro do universo dos 200 municípios brasileiros com maior PIB por habitante, há 30 em que a proporção de pessoas miseráveis supera aqueles 9,6% que correspondem à média do país.
É um contraste alarmante, que não se limita à renda, pois outros indicadores sociais nessas localidades também apontam para uma desigualdade extrema.
Trata-se, na maioria dos casos, de municípios de pequena população em que estão alojados grandes empreendimentos, daí o PIB por habitante ser elevado. Mas essas atividades (como instalações de mineração ou polos agropecuários), embora gerem muita riqueza, têm por característica mobilizar enorme volume de capital e criar poucos empregos.
Dos 30 municípios que se destacam por PIB e miséria elevados, em dez há uma grande instalação ligada à indústria do petróleo; em outros oito, grandes empreendimentos pecuários ou agrícolas (soja, milho ou algodão); e em cinco há usinas hidrelétricas.
Dentre as razões que levam a que a riqueza gerada não seja absorvida está o fato de que parcela expressiva dos empregos mais qualificados, e portanto mais bem remunerados, seja gerada longe dali, nos grandes centros.
Ainda assim, a despeito de a geração de emprego local ser limitada, não cabe dúvida de que esses municípios prósperos se beneficiam de uma arrecadação de tributos encorpada. Caberia às prefeituras converter os recursos abundantes em medidas para melhorar as condições de vida locais.
As evidências de que isso esteja ocorrendo são mínimas. Há indícios de que, nos últimos anos, a educação e o atendimento à saúde vêm melhorando nesses municípios. Mas, dada a prosperidade dessas cidades privilegiadas, é pouco. Sobretudo porque a abertura de vagas de trabalho -a mais importante porta de saída da miséria- continuou claudicante.


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