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![]() São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Jovens, consumo de álcool e propaganda ILANA PINSKY
O aumento do consumo de bebidas alcoólicas em uma população
é influenciado por uma série de fatores,
mas dois deles são especialmente importantes.
De acordo com a lei 9.294, de 1996, que regulamenta a propaganda de bebidas alcoólicas no país, apenas produtos com teor alcoólico acima de 13 GL integram a categoria. Isso exclui cervejas e vinhos, por incrível que pareça. Mesmo para as bebidas que se enquadram na lei, no entanto, a publicidade em rádio e TV é livre na faixa entre 21h e 6h. E vinhetas rápidas de patrocínio são permitidas em qualquer horário. A partir de 2000, quando a lei 10.167 foi sancionada para praticamente extinguir a propaganda de cigarro restrita, desde então, aos locais de venda, parecia natural que o jogo ficasse mais duro também para as bebidas alcoólicas. A discussão sobre as estratégias de propaganda e marketing da indústria do álcool não é prioridade brasileira. A preocupação com o impacto global destas no consumo dos jovens deu origem a um encontro internacional organizado pela OMS, com especialistas de mais de 30 países, na Espanha em maio de 2002. Um trabalho brasileiro apresentado nesse evento confirmou a tendência mundial, especialmente em países em desenvolvimento, da indústria de álcool dirigir seus produtos aos jovens. No mesmo encontro foram apresentadas evidências científicas da influência da propaganda de álcool sobre os jovens. Nesse sentido, é animadora a criação do grupo interministerial responsável por estabelecer novas regras para a propaganda, comercialização e taxação das bebidas alcoólicas. Além das razões de saúde pública, o custo do uso nocivo de bebidas alcoólicas é extremamente alto. Não temos no Brasil estudo amplo sobre o assunto, mas pode-se recorrer, como referência, às estatísticas de outros países. Nos EUA, o custo anual dos acidentes de trânsito relacionados ao álcool ultrapassou US$ 100 bilhões em 2000. Em 1996, um estudo sobre o uso de álcool entre os jovens estimou custos de US$ 50 bilhões, incluindo acidentes de carro, crimes, afogamentos, intoxicação alcoólica etc. Embora os números norte-americanos sejam provavelmente maiores que os nossos, muitos dos problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas naquele país têm diminuído por conta das inúmeras leis, intensa fiscalização e existência de programas de prevenção abrangentes. Apesar dos tropeços do governo, parte da indústria do álcool parece sentir a pressão da sociedade aumentando e cogita o desenvolvimento de ações preventivas, principalmente no que diz respeito ao dirigir alcoolizado. Porém muito mais tem de ser feito. Entre as atribuições do governo, por exemplo, estão a fiscalização rápida e certeira das medidas restritivas a serem tomadas. Esse é um assunto importante e caro o suficiente para ser tratado a sério. Ilana Pinsky, 36, psicóloga, é coordenadora do Ambulatório de Adolescentes da Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Olavo Sales da Silveira: Os bingos torcem pelo Brasil Índice |
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