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O NACIONALISMO DE LULA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva aproveitou o dia da Independência para dar curso a sua
campanha nacionalista que, a pretexto de elevar a auto-estima dos brasileiros, reanima um surrado repertório patrioteiro com o qual o país já
teve oportunidade de conviver em
tempos de funesta memória. Certamente que há nacionalismos e nacionalismos, mas aquele que é urdido
como ideologia de Estado e transformado em instrumento propagandístico a serviço de projetos de poder deve ser visto com a máxima cautela.
O século 20 é pródigo em exemplos
de mobilizações nacionais de cunho
autoritário que patrocinaram alguns
dos episódios mais sombrios da história da humanidade. Mesmo em
países do Terceiro Mundo, onde o
nacionalismo foi com freqüência
convocado a combater o atraso e os
interesses externos a ele associados,
não é difícil identificar o papel mistificador e retrógrado que o ideário patriótico muitas vezes desempenhou.
O Brasil não faz parte das nações
cuja formação foi temperada em embates de ampla participação popular.
Não há dúvida de que existe um inequívoco sentido de nação e uma firme comunhão de valores identificáveis como nacionais. As circunstâncias históricas, porém, aqui favoreceram o impulso do Estado de moldar a nação, dirigindo-a e decorando-a com símbolos patrióticos.
De certa forma, o senso nacionalista de Lula parece caudatário do projeto de Getúlio Vargas, sob cuja direção o Estado reciclou, organizou e
difundiu um sistema de referências
nacionais. São conhecidas as mazelas do getulismo, mas seria um equívoco negar-lhe virtudes. A obra do
caudilho deixou profundas marcas e
foi apenas depois de consumada a
crise do Estado empreendedor,
quando o governo Fernando Henrique Cardoso assumiu a agenda liberalizante da economia globalizada,
que se formulou um discurso oficial
claro de ruptura com a era Vargas.
Agora, o governo Lula inclina-se a
novamente acenar a bandeira nacionalista numa tentativa de diferenciar-se ideologicamente de seu antecessor. Há em cena uma avaliação de
que o antivarguismo do período
FHC acabou por se revelar negligente
em relação à defesa de objetivos e interesses nacionais. Ainda que isso
possa ter ocorrido e que seja desejável que os brasileiros estimem seu
país, não será com a agitação de um
patriotismo sentimentalista e ornamental que o Brasil encontrará melhores condições para crescer, educar-se, distribuir renda e eliminar a
miséria- conquistas que verdadeiramente contribuiriam para fazer do
Brasil uma nação mais justa e altiva.
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